Com Alexandra Dahlström, Rebecca Liljeberg.
Dirección de Lukas Moodysson.
Fucking Ǻmål é uma história de amores e de frustrações. É um drama com final feliz.
Fucking Ǻmål é um filme que no ano da sua estréia foi o de maior bilheteria na história da Suécia, junto com Titanic. É uma história ótima, bem feita, com atores não profissionais e vamos tentar conversar sobre ele desde quatro pontos: o nome, as personagens, a história e seus significados. São quatro elementos que não podemos separar deste drama feliz. Na época, devido a parte da sua temática, foi uma novidade pois muitos filmes com uma temática similar, na maioria das vezes, tratavam o assunto de forma simplesmente trágica, com personagens estereotipados demais.
O nome Fucking Ǻmål diz muito. Ǻmål é uma cidade no interior da Suécia onde as pessoas vivem um mundo de tédio. Ainda que não há muitas tomadas da cidade, esta está presente como uma personagem que condiciona o comportamento da maioria das outras personagens. Os jovens estão cansados de morar na cidade, mas ao mesmo tempo, não vêem uma escapatória para ir a novas fronteiras e, ainda que não queiram, parece que estão condenados a continuar aí.
Agnes e Elim |
Por isso, mais uma vez a crítica negativa à tradução do nome no Brasil. Aqui decidiram que se chame Amigas no Colégio. Este é um nome que assassina o filme. Tira a sua essência, a sua personalidade porque não se trata de amigas que estão no colégio onde vão conversar, brigar, namorar, fazer festas e todos os estereótipos, na maioria de vezes, ridículos e absurdamente exagerados nos filmes americanos. O Filme, além de tratar do amor de Agnes por Elim, trata da angústia e chatice de morar na cidade mais pacata do mundo, segundo suas personagens.
No cartaz publicitário do filme há quatro frases que dão força ao nome original: “Nunca mais sairei com um homem. Ficarei solteira”; “Por que temos que morar neste fodida Ǻmål?”; “Você sabia que as pessoas falam de você?”; “Prefiro desfrutar agora que dentro de 25 anos”. Com o título em português se condiciona a uma história que não existe e parece que tudo fica na superficialidade. O problema da tradução é que não souberam se enfrentar com o termo em inglês “Fucking”.
Mas este drama existencial “moralista” da tradução não é privilégio no Brasil. Na Argentina e outros países da América foi traduzido por um nome mais absurdo ainda: Descubriendo el amor. Um nome onde o tempo não existe, onde as personagens parecem não ter um espaço. Onde o público acredita que vai assistir a mais uma história boba de amor.
Agnes |
A vida de Agnes não é fácil porque ela é fechada e não se relaciona bem com seus pais, a pesar de que estes tentam de todas as formas conversar e ajudar a filha. O pai se preocupa com ela e trata de lhe oferecer compreensão. Parece sensível e consegue reagir bem ante a crises que vive a filha. A mãe faz tudo o possível para que a filha saia de seu cascarão e que tenha amigas, mas não é fácil para ela vencer seus preconceitos ao descobrir o que acontece de verdade com Agnes.
O filme começa com os preparativos para a festa de aniversário de Agnes. Ela não quer a festa, mas os pais insistem e acaba aceitando entregar os convites aos seus colegas da escola sabendo que ninguém irá a sua casa, mas ainda porque essa mesma noite há outra festa aonde irão os jovens da cidade.
Neste ponto já sabemos que Agnes não é uma garota popular na escola. Mas ela não está preocupada em “ser popular”. Este conceito de “ser popular” é muito trabalhado nos filmes dos Estados Unidos quase sempre que se trata de uma história com adolescentes como se fosse o eixo da vida de uma pessoa. E isto é um mérito do filme Fucking Ǻmål: não perde tempo discutindo um conceito que só atrapalha e traz infelicidade para muita gente porque os pontos centrais dos jovens são outros.
A festa |
Mas a festa de Agnes toma um rumo inesperado ao chegar na casa dela uma colega que também não é aceita na escola porque usa cadeira de rodas. O fato de serem rejeitadas as duas no colégio não cria nelas um elo. Tanto é assim, que Agnes acaba agredindo verbalmente a colega e zoando do presente que ela trouxe. Até entre os mais fracos, o mais forte tenta se vingar das suas frustrações, da sua solidão e a empatia que em algum momento apareceu entre elas desaparece. É como se dissessem: “que bom que ela sofra mais que eu”. A colega vai embora e Agnes fica no seu quarto até que chega outra colega, o que é uma grande surpresa para ela.
Elim e a sua irmã Jessica são duas garotas que moram com a mãe que está a maior parte do tempo trabalhando e quando está em casa, gosta de assistir programas de concurso na televisão. Essa é a vida da mãe. É como se não tivesse outras aspirações na vida. É o modelo que as filhas não querem para elas, mas será que conseguirão mudar o rumo?
Como Elim não quer se encontrar com Johan, que está apaixonado por ela, convence a irmã para irem na festa de Agnes. Johan, como Markus, o namorado de Jessica, e os outros rapazes do filme e, portanto da cidade, é um adolescente possessivo, machista, ciumento que se preocupa mais com a sua moto e seu celular que com as pessoas e com ele mesmo.
E como é Elim? Ela tem 14 anos e carrega uma fama nada fácil. Preocupa-se com sua beleza física e é uma garota extrovertida e muito popular. É desinibida e bonita. Ele sabe que tem poder sobre os homens e gosta de usar seu poder. Pensa que será miss Suécia e sabe ser arrogante. Além disso, a fama disse que ela já esteve com quase todos os rapazes da escola, ainda que a verdade seja outra.
Ao chegarem à festa de Agnes, entram no quarto dela e ficam rindo da garota. Como estão aí só para fugir do tédio, entra em jogo a crueldade dos adolescentes. Jessica promete pagar 20 koroas para irmã se ela beijar Elim, pois na escola falam que Agnes é homossexual. Elim aceita o desafio e beija a força Elim. Logo saem as duas irmãs as gargalhadas, falando no nojo que foi, sem se importarem com os sentimentos de Agnes.
O tédio nos jovenes em Amal |
As cenas com os jovens fumando, bebendo, paquerando, se divertindo mostra o processo de auto-afirmação que é a característica dos adolescentes só que, no caso deles, há um peso a mais: o tédio. Seus rostos parecem cansandos, apenas como se só estivessem suportando tudo até chegar outro momento.
Agnes e seu sofrimento |
Agnes está apaixonada por Elim e ainda que os tempos tenham mudado o comportamento das pessoas e que alguns conceitos da sociedade tenham melhorado, não é fácil para uma pessoa e, mais ainda para um adolescente, reconhecer publicamente a sua sexualidade diferente das “normas estabelecidas”, pois isto gera piadas de mau gosto, atitudes agressivas de parte das pessoas preconceituosas e medrosas de seus próprios fantasmas. E também não podemos esquecer que os pais não são, na maioria das vezes, as pessoas mais abertas para compreender que seu filho é o que ele é (e que ninguém tem que se meter com isso, depois de tudo, quem anda por aí criticando o comportamento heterossexual de um heterossexual? Então, por que tem que se preocupar as pessoas em falar da sexualidade de um homossexual? Não é da conta de ninguém). Mas Agnes não tem como direcionar seu sofrimento. Está sozinha apesar de que os pais fazem um esforço para tentar se comunicar com ela.
Indo para Estocolmo |
Agnes finalmente está com a pessoa que ama. E para Elim se abre um novo mundo de possibilidades até esse momento impensável. No caso da Elim não é o desejo sexual que leva beijar Agnes e sim a possibilidade de encontrar um amor. Isso faz dela lésbica? Pode gostar de outra garota? Poderá suportar o que isso significa dentro do círculo da escola e do seu relacionamento com a sua irmã, com quem tem uma relação de amor-ódio permanente? Ela, a garota mais popular que ainda é virgem embora todos falem que já teve relações com quase todos os rapazes, está preparada para aceitar o que lhe aconteceu?
Elim, então, decide ignorar por completo a Agnes e faz justamente o que não queria porque necessita fugir da sua tormenta interior: começa a sair com Johan e tem sua primeira relação sexual que não a deixou satisfeita para nada. Todavia percebe a imaturidade do namorado e esse relacionamento começa a atormenta-la porque não pode fugir definitivamente do que ela já sente por Agnes, que a sua vez se sente novamente humilhada. É como se Elim houvesse feito dela um brinquedo por uma noite. Na escola já sabem todos a história do beijo pelas 20 koroas e isso gera as atitudes agressivas e desagradáveis dos seus colegas, como quando uns garotos mostram para ela fotografias de mulheres nuas e perguntam de qual gosta mais. O próprio irmão coloca a Agnes em cheque-mate frente aos seus pais ao perguntar inocentemente em casa o quê significa “lésbica”. Um duro golpe para mãe ao descobrir o que é a sua filha.
Mas, Elim não pode fugir permanentemente. A força que se desatou dentro dela não permite mais continuar com Johan e finalmente tem que tomar uma atitude. E essa atitude transforma a última cena do filme numa cena maravilhosa, linda, que dá vontade de bater palmas e de nos aproximar das duas garotas para parabeniza-las e dar todo o apoio que elas merecem.
Fucking Ǻmål é um ótimo filme que incomoda a pessoas preconceituosas que ficam “assustadas” com as descobertas e aceitações das duas garotas; mas, o filme não é só isso. O diretor soube apresentar com diálogos precisos e tomadas exatas esse mundo que envolve aos jovens sem perspectivas, que vivem a vida por vivê-la ainda que queiram viver de outro jeito. O filme não é crítico e deixa que o espectador tome a sua decisão em todos os pontos delicados que apresenta: a família, os amigos, os namorados, as namoradas, os pais, o futuro, a relação lésbica. Esta, principalmente, não é questionada. Ao contrário, apresenta o lesbianismo de uma forma neutra, sem apologias nem condenações. Ela está aí e é tão conflitiva quanto a relação heterossexual no mundo dos adolescentes.
Não podemos terminar de falar sem mencionar duas linhas sobre a trilha sonora. Ela é outra personagem do filme porque acompanha os diversos estados de ânimo que vivem as personagens. Muitas vezes a música complementa a narrativa.
Fucking Ǻmål ganhou o prêmio Teddy no Festival de Cinema de Berlim em 1999 e recebeu vários prêmios da Academia Sueca de Cinema. Também foi nomeado para Melhor Filme Europeu (1999).
Texto original de Patricio M. Trujillo Otega.
Nenhum comentário:
Postar um comentário