Com: Michelle Trachtenberg, Joan Cusack, Kim Cattrall, Kirsten Olson, Hayden Panettiere.
Direção: Tim Fywell
Direção: Tim Fywell
Sonhos no Gelo é um lindo filme produzido pela Disney para o entretenimento familiar; é uma aventura com uma lição positiva da vida que vale a pena assistir ainda que não seja uma super produção, mas sim com a qualidade técnica que é a marca registrada na grande maioria das produções da Disney.
Sonhos no Gelo nos conta a história de uma garota que se encontra em um dilema crucial: os sonhos que ela desenhou para seu futuro são seus sonhos ou são de outra pessoa? Ela tem que ir atrás desses sonhos ou tem que descobrir um novo caminho por mais difícil que ele seja?
Este é um tema universal que está no dia-a-dia de todas as pessoas e que não está presente somente no mundo dos jovens quando tem que decidir o que querem ser no futuro ao terminarem o segundo grau. Faz parte também do mundo dos adultos. Será que cumprimos os nossos sonhos? Será que nossos desejos se realizaram ou acabamos indo para onde nos falaram que teríamos que ir, mas no fundo temos uma profunda frustração interior?
Sonhos no Gelo trata deste tema de um jeito doce, mas sem ingenuidade. Porque todas as decisões que tomamos tem uma conseqüência e de nós depende que essa seja a decisão certa para nossas vidas.
Casey Carlyle (Michelle Trachtenberg), a protagonista do filme, é uma pessoa tímida que está terminando seus estudos secundários e desde criança quer ingressar na Universidade de Harvard. Ela é boa em Física, mas não é boa em se relacionar com pessoas da idade dela, por isso só tem uma amiga e não sabe reagir frente às humilhações, como quando uma colega dela se aproxima nos corredores da escola, e lhe dá um convite para uma festa. Ao começo, Casey pensa que o convite é para ela, mas logo descobre que é para que o entregue a um rapaz que estuda na mesma sala dela.
Casey tem que preparar um trabalho final para escola e se ela conseguir dar um toque pessoal que valorize a sua pesquisa, pode superar o difícil caminho que é o ingresso a universidade e, até poderia conseguir uma bolsa de estudos. Um dia ao estar assistindo com sua amiga uma competição de patinagem no gelo na televisão, fica impressionada com a apresentação de uma das competidoras e tem a idéia do que será o eixo do seu trabalho e, por tanto, do filme e do destino final de Casey.
Ela está convencida que atrás dos belos movimentos da patinação há uma fórmula física que pode ajudar a aperfeiçoar e compreender melhor esses movimentos. E ela está disposta a demonstrar isso tanto na teoria quanto na prática. Para isso, ela empreende um caminho que a leve a um confronto em três frentes:
A mãe. É uma professora de Literatura “ultra” feminista. Suas roupas e seu discurso são o de uma mulher que aposta tudo no poder e na capacidade que tem a mulher. Apóia a filha para que possa ingressar na universidade, mas não aceita que possa se desviar do caminho e dos valores que a ensinou. Ao descobrir que a filha não que ir mais para Harvard e que a sua escolha não tem nada a ver com o que sonharam a vida toda, se sente traída e capaz de morar na mesma casa, mas sem falar uma palavra com a filha durante várias semanas.
A mãe não compreende o que a filha quer e, principalmente, que ande com seus próprios pés. Embora isto seja uma grande verdade na difícil relação pais-filhos, principalmente na adolescência, o filme não aprofunda o porquê desta situação. Percebe-se que a mãe tem um problema muito sério como mulher em relação ao mundo masculino, mas não se chega a descobrir a origem nem a solução – ou uma tentativa - para este conflito. Não há um indício sequer que explique o que faz que uma mulher, em pleno século XXI, repita um discurso extremista dos anos setenta. Incluso isso se reflete na reação exageradas quando descobre que a sua filha está usando uma “roupa” de patinadora: curta –sensual no mundo imaginário dela- e chamativa.
Este é um dos pontos fracos no filme. O conflito familiar se soluciona posteriormente de uma forma superficial: com o arrependimento de uma e o sucesso da outra. Mas o que faz que uma relação seja duradoura não aparece. Tudo fica na aparência e esta é frágil... O tempo passa e fingimos que nas relações tudo está “ok!”.
Depois nos perguntamos o porquê uma sociedade tem que conviver com tantas neuroses e um desequilíbrio emocional que tentamos solucioná-lo no psiquiatra.
O segundo frente de batalha é a patinação e as pessoas envolvidas no esporte, nas ambições pessoais e nas traições.
Casey, ao ficar fascinada com a patinação, descobre que ela mesma pode ser uma grande patinadora; por tanto, o que no começo do seu trabalho não passa de um complexo tema de pesquisa para encontrar uma fórmula no mundo da física, se transforma em uma paixão e na possibilidade de ser alguém que você nunca imaginou que poderia ser. As portas são abertas graças ao esforço dela, embora haja um mundo que se sente ameaçado com a presença de um estranho ou, se preferir, de um “esquisito” e não duvida em se defender da ameaça.
Por um lado, as patinadoras com as que Casey se relaciona –algumas delas colegas do colégio- querem triunfar e os pais delas não permitem que ninguém possa destruir os sonhos de chegar a ser campeã. Frialdade, desprezo, arrogância caminham juntos nesta competitividade inculcada nas crianças cedo demais (que no filme se soluciona, com mais um “clichê”, com a doçura e a perseverança de Casey).
O pai de uma destas colegas pede para que Casey não fale nada com a sua filha, pois não pode ter nenhum tipo de distração, depois de tudo, ele trabalha em dupla jornada e hipotecou todo o que pode para que sua filha seja uma triunfadora.
Por outro lado está Tina, a mãe de Gen, uma das patinadoras e colega de Casey no colégio. Tina é a dona da pista onde a filha tem que treinar desde as 05h30 todos os dias. Além disso, a própria Tina já foi uma patinadora que foi expulsa de umas competições em Sarajevo por conduta antidesportiva. Quando foi absolvida, já tinha 25 anos e o seu tempo nesse esporte já tinha acabado. Mas, ao perceber que Casey pode superar a filha, não duvida em fingir seus sentimentos e traí-la. Ninguém pode atrapalhar seus sonhos, ainda que os da filha sejam outros, pois Gen não aguenta mais sacrificar sua vida para satisfazer as fantasias da mãe.
O terceiro enfrentamento e, o mais decisivo, é de Casey com ela mesma.
Casey cresceu condicionada pela mãe para triunfar no mundo acadêmico e quando ela disse “não” para Harvard toma a decisão mais importante da sua vida. Não tem com quem compartilhar suas aspirações, o que é muito difícil para um filho, principalmente se sabe que as portas do coração do pai/mãe estão fechadas pelos seus temores.
Porém, Casey, com muita maturidade, decide caminhar com firmeza nessa luta de encontrar seu próprio caminho.
Essa é a parte mais importante, em minha opinião, do filme. Sonhos no Gelo é uma mensagem para os adolescentes e, para os adultos também: é possível encontrar seu destino e ainda que sejam muitas as dificuldades que apareçam no decorrer do caminho, é possível chegar ao seu destino sem destruir ninguém, sem cair em vícios, sem se sentir vítima de ninguém. A decisão é sua e de ninguém mais.
Meu último comentário é sobre o gênero. O filme é apresentado como “comédia”, porém, acho que tanto a temática quanto a solução dos conflitos não levam para o lado cómico; é verdade que tem algumas cenas cômicas, não muito originais nem nada fora de série, que podem até fazer rir, mas isso não faz do filme uma comédia propriamente dita. Tampouco é um drama, pois ainda que os conflitos de Casey com a sua mãe e com a traição da Tina sejam fortes, o filme não fica centrado nesse tema. O filme aponta para a superação, a perseverança, e para o fato de que você tem que ser você.
Texto original de Patricio M. Trujillo O.
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