O filme que assistimos...

Você encontrará neste espaço comentários e analises de filmes de todas as épocas. Uma excelente oportunidade para aprender além do cinema.

Patricio Miguel Trujillo Ortega


15 de dezembro de 2013

La mariée était en noir - A noiva estava de preto



La mariée était en noir – A noiva estava de preto. Suspense. 108 minutos. 1968. França.

Com Jeanne Moreau.

Direção de François Truffaut.


A noiva estava de preto é uma história envolvente de amor e vingança. É a história de Julie, uma mulher que, muitos anos depois de ter visto seu marido ser assassinado justo no dia do seu casamento, decide se vingar de cada uma das pessoas que destruíram o seu sonho de viver com o amor da sua vida.

Esta história de amor e de ódio é um parêntese na longa e exitosa carreira cinematográfica de François Truffaut que fez, com sucesso, uma incursão no cinema de suspense no melhor estilo Hitchcok. Truffaut não só adaptou o romance de Cornell Woorich, mas utilizou uma riqueza de recursos para fazer deste filme uma experiência inesquecível, assim como também uma amostra de até aonde podem levar as ações frias e calculistas de uma pessoa tomada pelo ódio.

Jeanne Moreau: uma grande atuação como Julie Kohler
Quem é Julie Kohler?

As primeiras cenas de A noiva estava de preto são rápidas e confusas; o espectador fica perdido por um instante e tenta entender o que está vendo: primeiro, o grito de uma mulher que tenta se jogar por uma janela; depois, a imagem de uma mala que está sendo arrumada; finalmente, essa mesma mulher, vestida de preto, mostra segurança e tranquilidade ao se despedir da sua mãe e afirmar que tem certeza do que está fazendo; ela caminha pela rua acompanhada de uma criança rumo à estação de trem, finge que vai embora da cidade e, depois, com calma, lê as anotações de um caderno.
 
Tentativa de se jogar por uma janela

Essa mulher, segundos antes de cometer seu primeiro crime, diz a sua vítima: “Sou Julie Kohler” e, imediatamente, a empurra pela varanda do prédio e a câmera acompanha em diversos ângulos a queda do homem que morre sem saber o porquê.

O mistério já está em andamento: até esse momento transcorreram mais de vinte minutos e o espectador ainda não descobriu qual é a trama do filme e, principalmente, quem é essa Julie Kohler, agora toda vestida de branco. Fica a dúvida de qual é a relação do assassinato com as primeiras cenas do filme.
A noiva estava de preto
Porém, Truffaut vai revelando e construindo, com maestria, o quebra-cabeça da personalidade de Julie Kohler até que, muito depois, quando já se sabe quem ela é, só espera-se o desenlace do plano que ela elaborou até os últimos detalhes para levar a cabo a sua vingança e, de alguma forma, o espectador torce para que tudo dê certo com ela, pois ainda que ela deixe de ser vítima e transforme-se em carrasco de seus inimigos, sua personalidade é magnética.

As personagens.

Mas a pergunta ainda está sem responder: quem é Julie Kohler? A resposta está na revelação das suas cinco vítimas.

Bliss é o primeiro a morrer. Ele é um homem mulherengo que está prestes a se casar; porém, a única informação que temos da sua personalidade é por meio da conversa que ele tem com um amigo que chega ao seu apartamento quando ele está se preparando para sair. Assim, sabemos que ele vê as mulheres como um simples objeto de seu desejo sexual e que já teve muitas aventuras; além disso, parece que ele não liga para as emoções das suas conquistas.
 
Julie tenta enganar o porteiro
Julie olha de longe sua primeira vítima

A morte de Bliss não acontece como Julie Kohler queria; porém, ela mostra que é fria, decidida e que sabe improvisar. Ela tenta entrar no apartamento de Bliss, mas o porteiro não o permite; ela faz de tudo para enganar o porteiro, mas ele não se deixa iludir por ela. Então Julie aproveita, mais tarde, uma festa que há no apartamento de Bliss para entrar e matá-lo no meio da festa de seu noivado sem que ninguém perceba.
Julie e Bliss
 A segunda vítima é Coral. Com a sua morte, Julie revela ser uma pessoa que está segura do que faz e que controla suas emoções totalmente. Ela é observadora, detalhista, calculista e sabe se aproveitar das fraquezas dos outros para seu propósito.

O aspeto interessante da morte de Coral é que o espectador descobre a personalidade dele por meio das observações feitas por Julie. Para planejar a morte dele, ela entra no apartamento dele no momento em que está presente a porteira do prédio e, fazendo comentários e perguntas rápidas, descobre os hábitos de Coral e, desse jeito, prepara uma morte agónica para sua vítima.
 
Julie no apartamento de Coral
Julie seduz Coral

É com a morte de Coral que o espectador fica sabendo que Julie “é a noiva” e alguns detalhes são revelados sobre a morte do seu marido. Coral, diferente de Bliss, sabe por que está morrendo e luta desesperadamente pela sobrevivência; porém, Julie é mais forte que seu rival e seu plano é tão perfeito que a vítima não pode fazer nada, pois Julie está decida em matar os cinco homens culpáveis por terem destruído o grande amor da sua vida.
Julie espera até ver Coral morto
O terceiro crime revela outro lado da personalidade de Julie. Além de ser uma pessoa fria para matar, é cruel e não permite que nada se interponha em seu caminho, embora em um momento determinado demonstre que há um lado sensível nela e que ainda não se deixou dominar totalmente pelo ódio e seu desejo de vingança.
Morane, Julie e Cookie
Julie inicia encurrala Morane
Morane é um homem casado que tem um filho, Cookie. Sem nenhum escrúpulo, Julie engana a criança de cinco anos para saber os detalhes necessários da vida de seus pais para organizar o plano da sua vingança. E com muita astúcia não só consegue que a mãe da criança tenha que se ausentar da casa, mas que Morane a deixe entrar em seu lar, acreditando que ela é a professora de seu filho.

Uma vez que está dentro da casa, Julie trabalha ardilosamente até conseguir que Morane morra de uma maneia lenta, sufocante e angustiante. Porém, quando a professora de Cookie é acusada de ter cometido o crime, Julie mostra seu lado “humano” e encontra um jeito de inocentá-la.
 
A professora, já inocentada, retorna à escola
A morte de Fergus, o pintor, talvez seja a mais interessante do filme porque não é simplesmente mais uma vingança satisfeita, mas sim a transformação de Julie que passa a ser a “musa” inspiradora do pintor. Julie, por primeira vez desde que iniciou a sua vingança, encontra-se em uma situação na qual corre o risco de perder o controle, pois ela não pode manipular todas as emoções de Fergus como o fez com as de Morane e Coral. A relação que se estabelece entre ela e o pintor é intensa e Truffaut trabalha este relacionamento com uma agilidade de quadros e situações que parece, por um momento, que Julie vai perder finalmente o rumo das suas ações; porém, chega-se ao clímax quando ela assiste propositalmente ao enterro do pintor, sabendo que será reconhecida e detida pela polícia.
 
Julie passa a ser a "musa" de Fergus
Fergus e Julie
Mas esta ação que parece ser um ato irresponsável para alguém que teve o cuidado de não deixar nenhuma pista em cada uma das suas vinganças, revela-se como a estratégia perfeita para se aproximar de Delvaux, o quinto homem que participou, assim como os outros, da morte do marido de Julie. Deste jeito, confirma-se a ideia que temos de Julie: uma mulher fria, dominada pela sede de vingança, que já não tem outra razão para viver, que não seja matar os que destruíram sua felicidade.

Os recursos de Truffaut.

O filme é rico em recursos cinematográficos que fazem desta obra uma experiência única na carreira de Truffaut; porém, nós queremos destacar dois elementos interessantes.

O primeiro refere-se ao uso da câmera parada quando Julie prepara-se para matar Delvaux. Ele é a única personagem que foge das mãos e do planejamento frio e calculista de Julie Kohler. Delvaux é apresentado como um homem sem escrúpulos e que tem problemas com a polícia pelos negócios ilícitos nos que está envolvido; por isso, a aproximação de Julie não é tão fácil como foi nos casos anteriores e ela deve vencer obstáculos perigosos para cumprir seus objetivos. E, de alguma maneira, o uso da câmera parada é perfeito para mostrar a tensão e o próprio perigo aos quais Julie está exposta nas duas oportunidades em que Delvaux se confronta com a morte sem saber o que está acontecendo.
A noiva estava de preto: câmera parada no ferro velho
A morte de Delvaux e a câmera parada
Na primeira oportunidade, Julie chega ao lugar do trabalho de Delvaux, que é o dono de um ferro-velho e, quando se prepara para matá-lo, a câmera permanece parada, atrás de Julie, criando uma imagem em profunda perspectiva. Delvaux está longe de Julie e não se aproxima. Essa perspectiva dá a sensação de que Julie pode se transformar em vítima, pois o homem que ela quer matar é desconfiado por natureza. O mesmo recurso é utilizado quando Julie está na cadeia e consegue, finalmente, chegar perto de Delvaux que também está detido. A câmera permanece parada e deixa que a personagem se distancie e desapareça da cena e que a história continue fora dos olhos do espectador.
Julie se aproxima de Cookie... A câmera em movimento
O outro recurso é a utilização da câmera em movimento quando Julie se aproxima de Cookie, o filho de Morane, que sai da escola e vai para a sua casa. Os olhos de Julie convertem-se na câmera e acompanha todo o percurso do menino da escola até sua casa. A criança olha para trás para ver quem o está seguindo, porém o espectador só vê o que os olhos de Julie querem ver. Com este recurso, transmite-se durante o longo percurso de Cookie a sensação que ele está em perigo. A cena é longa e, a cada passo da criança, a tensão aumenta.

Não podemos terminar sem mencionar o uso da “Marcha Nupcial” como um “leimotive” ao longo da sequência quando o espectador conhece, finalmente, a história completa de como foi a morte do esposo de Julie; além disso, a cena da saída de Julie e de seu marido da igreja e de como ele morre, transforma-se em um tema constante que aparece em fragmentos repetidos, sob diferentes perspectivas, o que aumenta a tensão e explica a dor e a vingança de Julie.
A noiva estava de preto
A noiva estava de preto
A noiva estava de preto
A sedução: um passo para a vingança.

Ainda que a relação de Julie com o pintor Fergus seja um dos pontos mais altos do filme pela repentina paixão que tem o pintor por sua assassina, há que destacar o processo de sedução fatalista que Julie exerce em Coral.

Coral é um homem que está em decadência e se deixa seduzir, acreditando que ele não perdeu seu charme. Ele está convencido de seu antigo poder, de quando pertencia a um grupo de amigos “amantes das mulheres e da caça”, sem perceber que ele se transforma na “caça” e, nesse sentido, a sua morte é muito significativa; tanto é assim, que das cinco mortes, esta é a mais demorada e o espectador não perde nenhum detalhe. O sedutor sucumbe frente à sedução.
 
Foi destruído o amor da vida de Julie

A noiva estava de preto é uma experiência única na cinematografia de Truffaut e ainda que não seja o melhor filme de suspense, não se podem negar os méritos desta obra magnífica que ganhou o National Board of Review, USA em 1969.

Para quem ainda não conhece o cinema de François Truffaut, ele é um dos cineastas que iniciou o movimento cinematográfico francês conhecido como Nouvelle Vague, o movimento que mudou a forma de fazer cinema na França nos anos sessenta e que tem influído aos grandes cineastas do mundo. Truffaut (1932 – 1984), com seus mais de vinte filmes, é uma das mais influentes figuras do cinema e A noiva estava de preto é uma ótima contribuição ao cinema do suspense.

Texto original de Patricio Miguel Trujillo Ortega.

Está proibida a reprodução total o parcial do texto em qualquer meio e de qualquer forma sem a autorização escrita do autor.


18 de novembro de 2013

Electroshock (A Love to Keep)



Electroshock (A Love to Keep). Drama – Lesbianismo. 2006. 98 minutos. España.

Con: Carmen Elías, Susi Sánchez, Julieta Serrano, Juli Mira, Toni Sevilla.

Dirección: Juan Carlos Claver.

¿Qué se puede decir de una historia que cuenta la tragedia de dos personas que se aman plenamente y que son separadas a la fuerza por las ideas prejuiciosas de la familia?

Si presentamos a Electroshock de esta forma, diríamos que la historia no tiene nada de original, que ya ha sido hecha ciento de veces, que miles de espectadores ya se han solidarizado con las trágicas parejas de amantes y que han llorado a lágrima viva frente a la pantalla grande.

Y a esto podríamos añadir un tono más dramático: una historia basada en hechos reales.

A la gente le encantan las historias basadas en hechos reales por los más diversos motivos y, a los productores, más aún porque pueden explotar al máximo las emociones del público y ganar mucho, pero mucho dinero con los pañuelos húmedos y los suspiros de los espectadores.

Sin embargo, a pesar de que Electroshock es una película basada en hechos reales que cuenta la historia de dos mujeres que se aman y que son separadas por la familia, es una obra mucho más profunda porque retrata la cruda realidad de una sociedad intolerante, retrógrada e ignorante en la España de Franco y que, para nuestra sorpresa, aún en nuestros días y en muchos lugares, hay gente que piensa y propaga ideas absurdas como la de la familia que prefiere destruir psicológicamente a su hija que verla feliz con la mujer que ama.
 
Elvira intenta suicidarse
Empecemos diciendo que Electroshock es una película hecha para la televisión y que, por lo tanto, no tuvo una amplia divulgación comercial; no obstante, fue hecha en alta definición y técnicamente es buena; pero, por ahora, vamos a preocuparnos primero por su historia y significados.

El amor prohibido de dos mujeres en los últimos años de la era franquista.-

La historia de Pilar y Elvira empieza en 1972 cuando el gobierno dictatorial y extremista de Franco en España se aproxima a su fin.
Elvira y Pilar: dos mujers que se aman y son felices
Ambas son dos mujeres adultas, profesoras, que trabajan en la misma escuela. Viven en la misma casa y, con el pasar del tiempo, descubren que la amistad que hay entre ambas es algo más profundo que una simple amistad; perciben que su relación se ha transformado en un amor verdadero; no obstante, ambas lo evitan, así como también el hablar del mismo y se esfuerzan por vivir sin involucrarse emocionalmente, pues hay que recordar que viven en una sociedad ultra conservadora y en un país en el que no hay libertad de pensamiento ni de acción. Sin embargo, Pilar, que es la más relajada de ambas, decide tomar la iniciativa y vence la resistencia de Elvira; de esta manera, pasan a vivir como pareja, aunque con muchas precauciones, pues no pueden olvidarse que viven en una sociedad extremista, conservadora e intolerante; por tanto, sus gestos de amor y de cariño deben limitarse a cuando están solas en su casa, pues cuando la gente empieza a notar en las calles que “algo” hay entre ambas, las empiezan a mirar con desagrado y reproche.
En la España de Franco las miran con desagrado y reproche
Pilar y Elvira tienen una relación armónica y constructiva que no perjudica a nadie; al contrario, ellas son felices y se sienten realizadas. Están construyendo un hogar basado en una relación honesta, sincera y de amor. Sin embargo, la madre de Pilar no soporta la idea de que su hija sea lesbiana, pues no solo que le parece un “acto” vergonzoso y abominable, sino que también le acusa a Elvira de ser la culpable de la “enfermedad” de su hija.
Un padre de familia, militar, se queja en la escuela por la conducta de las profesoras
De esta manera, ella invade, literalmente, la casa de su hija y separa a Pilar a la fuerza de Elvira. La interna en un psiquiátrico y la somete a un tratamiento de tortura psicológica para “curar” su “enfermedad”.
La madre de Pilar invade la casa de su hija para llevarla al psiquiátrico
Después que Pilar y Elvira son separadas, podemos dividir Electroshock en dos partes: la primera cuenta la tragedia de Pilar en el psiquiátrico y la segunda, la búsqueda de Elvira por reencontrar a su amada.

Pocas palabras vamos a dedicar a la segunda parte, por eso empezamos por esta: Elvira es una mujer fuerte y aunque se ve obligada a abandonar su trabajo y su ciudad para evitar problemas con la policía, ella no se olvida de Pilar y no deja de amarla. Al contrario, después de haberse instalado en una nueva ciudad y en una nueva escuela, trata de averiguar en dónde está su amada y hace todo lo posible para encontrarla. Una tarea difícil, pues la madre de Pilar se ha encargado de evitar que su hija se reencuentre con Elvira, lo que dificulta la tarea de esta. A pesar de eso, ella no desiste y empleará todas las fuerzas posibles para reencontrar a Pilar.

La cura del homosexualismo y las teorías de Pavlov.-

El hecho de que Pilar haya sido internada en un psiquiátrico muestra hasta dónde puede llegar el fanatismo y el miedo que transforma a la gente en seres ignorantes que prefieren destruir la vida de un ser querido solo para no dar el brazo a torcer en sus principios fanáticos.
 
Elvira y Pilar: una pareja feliz
La destrucción psicológica a la que le someten a Pilar
En este sentido, la historia de Electroshock, adelantándonos a una conclusión, es un mensaje de alerta a la sociedad para evitar que historias de este estilo se vuelvan a repetir, principalmente porque hay sectores ultraconservadores que se aprovechan de los miedos de la gente y de las creencias religiosas para manipularlos para conseguir sus intereses egoístas. Esta es una libre interpretación que hacemos, alejándonos en parte de la película, por eso mejor que volvamos a ella.

Electroshock evita cuestionar directamente las ideas de la madre de Pilar y del médico del psiquiátrico responsable por “curar” a la “enferma”. No entra en una discusión directa y / o moralista sobre el tema del homosexualismo en los años setenta; sin embargo, a través de muchas escenas cortas y directas que se van sucediendo una tras otra, se plantea de manera obvia la posición de la película: la estupidez y la ignorancia de la gente y de los doctores que quieren “curar” a los homosexuales, transformándolos en seres “normales” con el pretexto de que los aman y que desean lo mejor para ellos.
 
Pilar, una mujer normal, obligada a convivir con locos de verdad
Pilar, una mujer sana cuyo “pecado” a los ojos de su madre es amar a otra mujer, permanece varios años en el psiquiátrico, como si estuviera loca, compartiendo un mismo espacio con otros pacientes que sí tienen problemas mentales. Ella se ve obligada a esconder sus emociones y teme por su vida, pues en cada rincón hay algún tipo de peligro que le acecha, como por ejemplo la paciente que le hace gestos de que la quiere matar y comerla, tal como lo hizo con su familia.
Sesiones de electroshock para "curar" el lesbanismo
Pilar es torturada física y psicológicamente por amar a una mujer
No obstante, las escenas más fuertes de Electroshock son justamente las sesiones de terapia a las que le someten a Pilar. El doctor responsable por la “cura” utiliza las teorías de Pavlov sobre el condicionamiento clásico y utiliza el electroshock para “condicionar” a Pilar: la única familia que puede aceptarse es la de una mujer casada con un hombre, y ambos, tienen que procrear hijos.
El doctor y sus teorías de condicionamiento
Cuando Pilar ve una foto de una mujer, la torturan
Electroshock
La escena impacta por la crueldad y frialdad del doctor y sus enfermeros. A Pilar la amarran a una silla y la sientan frente a una pantalla. El doctor le hace ver primero algunas imágenes de mujeres desnudas y, cada vez que le muestran una, le aplica el electroshock; después de haberla torturado de esta manera, la deja sentada, sola, frente a la foto de una “familia” tradicional: hombre, mujer e hijos.

Pilar y Elvira.-

Cuando Pilar sale finalmente del psiquiátrico, teóricamente curada, ya tiene un daño cerebral y emocional irreversible y, si al principio de la historia era una mujer alegre, feliz, espontánea, ahora es una mujer deprimida, triste, temerosa que no consigue controlar lo que le pasa a su mente. Vive aterrorizada y aunque se le da la oportunidad de reencontrarse con Elvira, el mal al que se le sometió le domina totalmente.

Son otros años. Franco ha muerto y España vive un proceso de cambio; cuando Elvira ha encontrado finalmente a Pilar y ambas se van a vivir juntas nuevamente, parecería que lo que se les negó ahora nadie les pudiera quitar; no obstante, Pilar no es la misma y ni el amor de Elvira que, con el pasar de los años no ha disminuido, consigue curar el mal que le hicieron en el psiquiátrico.
 
Elvira y Pilar eran felices porque vivían una relación plena que les hacía bien
Pilar está destruida mentalmente después de haber pasado muchos años internada en el psiquiátrico
Una escena que muestra esta dificultad de Pilar para adaptarse a la sociedad es cuando ambas mujeres caminan por una playa de Valencia de manos dadas. Caminan lentamente, conversando y Pilar tiene miedo al que un policía pasa al lado de ellas. Aunque Elvira le explica que ya no hay de qué temer, pues los tiempos son otros, las miradas de la gente, que ya no las juzgan ni las critican, le incomodan a Pilar y surge el “condicionamiento” al que le sometió el doctor en el psiquiátrico.
Elvira y Pilar caminando por la playa. Elvira nunca más será la misma

Y el desenlace no se hace esperar: Pilar se mata y Elvira trata de matarse también clavándose un cuchillo en el pecho y, al no conseguirlo, le acusan de haber matado a Pilar.

La estructura de la película.-

Pilar y Elvira tenían un pacto secreto: si las cosas no funcionaban, ambas morirían. Y con la muerte de Pilar y el intento del suicidio de Elvira empieza la película. Pilar le cuenta al médico que le atiende en el hospital su historia. La narración de los hechos es lineal con algunas interrupciones para contar lo que sucede con relación al juicio que se le sigue mientras ella está internada.
Pilar le pide a Elvira que la mate
A pesar de que la historia está contada de manera lineal, hay algunas escenas que parecen que están sueltas, perdidas, pero que después son claves para entender la totalidad de la historia; entre estas, podemos mencionar las fotografías en blanco y negro que aparecen al principio de la historia, que solo cuando Pilar está en el psiquiátrico se las entiende; lo mismo podemos decir de la escena en la que la madre de Pilar rechaza una paquete que su hija le ha enviado por correo.

También hay que destacar la variedad de planos que el director utiliza con precisión para conseguir que la película sea dinámica e impactante.
Elvira busca a Pilar incansablemente
Electroshock es una película de buena calidad técnica y el director realizó algunos cambios en la historia real de los personajes principales, como él lo declara, para evitar que la película fuera un documental; sin embargo, destacamos lo que consideramos un defecto de la película: el origen del abogado que defiende a Elvira. Se descubre que él fue un alumno de Elvira y Pilar y la construcción de este personaje nos parece incompleta. Hay dos escenas breves en las que se lo ve, primero de niño y luego de joven; no obstante, su aparición como abogado es brusca y si se hubiera gastado un par de minutos más en su origen como personaje, habría sido más rico como tal.

La obra no es sentimentalista y no despierta la simpatía del público con escenas extremamente dramática o apelativas; al contrario, intenta mantenerse objetiva; a pesar de esto, y este es el mérito, toca en lo más profundo de las emociones humanas en dos aspectos: un gesto de solidaridad con el amor de Pilar y Elvira y un acto de rabia contra la ignorancia de la gente y contra la ridícula intolerancia contra los homosexuales.
Elvira le cuenta al doctor la historia de ella y de Pilar
Electroshock fue presentada en diversos festivales de cine, como en el de Málaga, en el del Cine Gay, Lésbico, Bisexual y Transgresor de Nueva York, en el Festival Gay y Lésbico de Lisboa, entre otros. Obtuvo algunos premios, como el Premio al Mejor Largometraje en el Festival de Cine LGBT La Paz de Bolivia; la Mención especial de la Cruz Roja Monegasca Mejor Actor Juli Mira en el Festival de Televisión de Montecarlo. Además fue nominada como Mejor TV Película para los Premios de la Academia.

Texto original de Patricio Miguel Trujillo Ortega.

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