O filme que assistimos...

Você encontrará neste espaço comentários e analises de filmes de todas as épocas. Uma excelente oportunidade para aprender além do cinema.

Patricio Miguel Trujillo Ortega


28 de fevereiro de 2011

Phoebe in Wonderland - A Menina no País das Maravilhas

Phoebe in Wonderland (A Menina no País das Maravilhas). Drama. 2008. Estados Unidos. 96 minutos.

Com Elle Fanning, Felicity Huffman, Bill Pullman, Patricia Clarkson, Campbell Scott, Ian colletti.

Direcão de Daniel Barnz.

Uma pessoa estranha-

O quê é uma pessoa estranha?

Provavelmente responderíamos a pergunta dizendo que é aquela pessoa que não se encaixa no nosso modo de ver o mundo, nos nossos gostos, na nossa forma de nos comportar, partindo da ideia de que o nosso comportamento é o padrão que todas as pessoas deveriam seguir; portanto aquele que não é como “a gente” é uma pessoa estranha.

No entanto essa ideia tem mudado bastante nos últimos anos, embora não o suficiente. Hoje já se sabe que o “estranho”, o “esquisitão”, é muitas vezes uma pessoa que não é assim porque ele simplesmente quer ser desse jeito, mas sim porque ele sofre de algum tipo de transtorno e, quando se trata de uma criança, o problema se complica porque nem sempre os pais aceitam que seu filho tem um problema que merece uma atenção especial, já que todos fazem questão de querer ter seu “filho perfeito”.

A Menina no País das Maravilhas (Phoebe in Wonderland) é um bom filme, sensível, bastante profundo, embora utilize alguns estereótipos na caracterização das personagens e seja tímido para questionar a educação autoritária, que apresenta o drama e sofrimento de uma criança de nove anos de idade que tem a síndrome de Tourette e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).

A história-

Phoebe (interpretada de forma magnífica por Elle Fanning) é uma criança de nove anos de idade que mora com seus pais e sua irmã. Ela estuda em uma escola rígida onde as regras, pelo simples fato de serem regras, tem que ser cumpridas e parecem ser mais importantes que as próprias crianças. Por exemplo, no primeiro dia de aula, os professores ensinam aos alunos que tem que obedecer as regras e uma delas é esperar a hora certa para fazer alguma pergunta na sala de aula. Mas, ao serem questionados os professores pelos alunos de quando é a hora certa para fazerem as perguntas, eles não respondem a dúvida dos alunos, pois eles não estão cumprindo as regras.

É nesse ambiente contraditório que Phoebe, uma menina que não se parece em nada com seus colegas, estuda e, para ela, esse é o pior lugar que pode existir. Mas, a nova professora de teatro convida aos alunos, de uma maneira muito original, para participarem da audição para escolher aos estudantes que atuarão na peça Alice no país das maravilhas. Phoebe duvida muito em participar ou não, até o momento em que ela vê a própria Alice correndo nos corredores da escola, onde está escondendo-se e brincando com ela.
Phoebe e seus pais
Esse é o ponto de partida do filme para conhecer quem é realmente Phoebe: uma criança que sofre com os diversos comportamentos característicos das síndromes que ela tem.

As personagens -

Phoebe é uma criança que questiona tudo. Para ela não é fácil aceitar as regras, por isso, como falamos no começo, ela pergunta quando é a hora certa de fazer perguntas. Além disso, como consequência dos seus problemas, fica aprisionada em um comportamento de ações repetitivas: fica dizendo uma mesma frase muitas vezes; chega a se machucar os joelhos por estar se arrastrando durante muito tempo sem um motivo aparente; confunde a realidade com a fantasia (o que a levará varias vezes a viver situações de extremo perigo); diz coisas sem sentido e agride as pessoas com as palavras, ainda que ela não queira fazer isso.

Os pais (Peter e Hillary) são personagens estereotipados – isso enfraquece até certo ponto o filme, embora entendamos que esses estereótipos ajudem a mostrar melhor o entorno conflitivo de uma criança que tem diversas síndromes, pois isso faz que o público possa se identificar mais; no entanto, perde-se a oportunidade de mostrar o outro lado da realidade, pois os pais nem sempre são desse jeito.

Hillary, a mãe, em algumas situações é muito mais conflitiva que a própria filha. Quando é chamada à escola porque Phoebe sofre um acidente, ela se descontrola frente à professora de teatro. Antes de ir embora, ela sai de repente do carro decidida a fazer alguma coisa para resolver o problema da filha e joga na cara da professora um discurso que não faz sentido. É uma reclamação de quem se sente culpável, pois ela se acha responsável pelos problemas da sua filha. O conflito de Hillary com ela mesma é tão grande que até as situações mais simples as transforma em comportamentos descontrolados, como a cena na qual ela varre com a vassoura o jardim de sua casa de uma maneira quase histérica.

A verdade é que Hillary não sabe como administrar o tempo com a sua família, em especial com Phoebe, o que influencia até no seu trabalho (ela está escrevendo sua dissertação que, por coincidência, é sobre a história de Alice no país das maravilhas). Ela confessa a seu esposo que está passando por um momento de estancamento criativo.

Porém, Hillary é a primeira a perceber que sua filha, a cada dia, está pior. Mas isso não é suficiente, pois acredita que ela, como mãe, tem a culpa porque não tem tempo para passar com as filhas. Esse sentimento de “coitadinha” que ela desenvolve, só ajuda a piorar a situação de Phoebe.

O pai, Peter, no melhor estilo estereotipado da maioria dos filmes dos Estados Unidos (não sei na vida real eles são desse jeito mesmo), não sabe como conversar com sua filha. Tem uma dificuldade muito grande em se relacionar com Phoebe. Tenta dialogar e até faz um esforço para não repetir os erros que o seu pai teve com ele; mas tudo sem sucesso. Um exemplo dessa dificuldade comunicativa é a cena na qual Phoebe e sua irmã, brincando, pedem aos pais um “irmão’”. Peter diz a Phoebe que a mãe (Hillary) não aguentaria jamais outro filho como ela (como a Phoebe).

Essas palavras de Peter mostram a uma pessoa que não tem empatia com a filha porque vive pensando só nele. Ele ainda não superou os traumas do seu passado e, embora tenha boas intenções, não faz o necessário para estabelecer uma ponte de comunicação com as suas filhas.

Olivia, a irmã de Phoebe, é uma menina inteligente e forte, mas se sente sozinha já que ela não recebe a mesma atenção que a irmã. Além disso, ela reclama de ter que fazer tudo o que a irmã quer e resolver os problemas de Phoebe. É uma menina que sente “angústia”, nas próprias palavras dela.

Jamie é uma personagem interessante. Ele é um colega de Phoebe que deseja representar o papel da Rainha de Copas, embora esse seja um papel feminino. Os seus colegas zombam dele quando consegue o papel, mas ele confia nele e, aparentemente, não se deixa abalar pelas provocações de seus companheiros.

Jamie tem um comportamento diferente dos demais e é verdade que serve como um imã em Phoebe, pois eles não só que são bons amigos, mas no final assumem a liderança do grupo ao ficarem sem a professora de teatro. No entanto, tivemos a impressão de que com esse personagem houve uma tentativa de apresentar “outro tipo de comportamento não convencional” para fazer um contraste com as normas rígidas da escola que não favorece a comunicação das pessoas. Por isso, a personagem é superficial e poderia ter sido aproveitada de melhor forma.

Miss Dodger, a professora de teatro, cumpre um papel importante nos problemas de Phoebe. É com ela, e durante os ensaios, que a menina passa a se sentir bem e consegue manter-se concentrada, pois ela passa a “viver no país das maravilhas”, que é o único lugar onde não sente a pressão dos “outros”, de “esse mundo” com o qual, devido a seu transtorno, não consegue se relacionar. Miss Dodger diz a Phoebe: “em certo momento da sua vida você vai abrir os olhos e ver quem realmente você é. Especialmente por tudo que a tornou tão diferente de todos os horrivelmente Normais”.

O conflito-

O ponto central do filme está na decisão que deve tomar Phoebe de se inscrever ou não na peça de teatro que, em um primeiro momento, parece ser o melhor para ela. No entanto, ela tem problemas de socialização com as outras crianças, como acontece quando ela se nega a brincar de “pega- pega”, pois ela se sente ameaçada, o que provoca um comportamento agressivo, como o fato de cuspir em uma colega. Ao mesmo tempo, desenvolve alguns rituais ‘estranhos’, como contar quadrinhos na calçada, girar três vezes, subir as escadas pulando até cansar. Também não deixa de repetir as falas de outras pessoas e, em geral, debocha dos outros e faz uso constante de palavrões.

Frente a este problema, os pais de Phoebe tentam fazer algo, principalmente Hillary, que quer ter mais tempo para estar com as duas filhas, já que ela tem dificuldade em aceitar que a sua filha tem a síndrome de Tourette, motivo pelo qual se recusas a dar remédios a sua filha. Além de pensar que ela não é uma boa mãe, passa a julgar aos médicos, achando que eles rotulam as crianças.


Em síntese, A Menina no País das Maravilhas é um ótimo filme, principalmente pela atuação de Elle Fanning. Apresenta uma temática difícil e delicada que afeta a muitas pessoas, mas no fundo não se atreve a questionar diretamente essa educação manipuladora e autoritária que castra as crianças, como faz constantemente o diretor da escola com a sua indiferença aos problemas que afetam a Phoebe. No resto, o filme é simples, com uma história linear. O ponto forte do filme é o conteúdo da história e a interpretação dos protagonistas.

Texto original de Patricio M. Trujillo O.

Proibida a reprodução total o parcial do texto sem a devida autorização do autor.

25 de fevereiro de 2011

Tempo. Uma questão de sobrevivência


Tempo. Suspense-Policial-Drama. 83 minutos. 2003. Inglaterra-Luxemburgo-França.

Com Melanie Griffith, Rachael Leigh Cook, Hugh Dancy.

Direção: Eric Styles.

O filme Tempo, distribuído no Brasil com o nome de Tempo. Uma questão de sobrevivência é uma obra para lá de medíocre, e vamos perder um pouco de tempo falando dele porque o cinema está feito assim: filmes bons e ruins. O lamentável é que às vezes os filmes ruins são mais e melhores distribuídos que os bons.

A primeira impressão que temos de Tempo. Uma questão de sobrevivência é que se trata de um filme agradável de assistir. A história é ágil, dinâmica e tem uma ótima fotografia. Além disso, as poucas cenas de ação estão bem montadas, com um bom jogo de planos que ajuda, muito, na dramatização da obra. Inclusive o efeito visual da fotografia retratando o passo do tempo é ótimo, além das diversas cenas nas que se utiliza a sobre-exposição, dando a impressão de que estamos em frente a um filme que, tecnicamente, está bem. Aliás, até para se tratar de um filme de suspense com ação, violência, intriga, traição e triângulo amoroso, não se abusa das cenas de violência.

Tempo. Uma questão de sobrevivência: não se abusa das cenas de violência
No entanto... -

A história de Tempo é interessante, embora não seja muito original, o que faz com que ele seja previsível. Mas, o que destrói realmente o filme são as personagens. Muito mal concebidas. Extremamente estereotipadas e, o pior de tudo, são ocas e quando elas tentam ser profundas, caem no ridículo.
Sarah
Sarah é uma mulher de meia idade que mora em Paris e trabalha para um indivíduo inescrupuloso chamado Maldonado, traficando peças de arte de valor para colecionistas. Ela mora com Jack, que pela idade dele poderia ser seu filho. Depois que Sarah entrega uma peça, Walter, um colecionador, entra em contato com ela e lhe pede que viaje a Munique para conseguir uma moeda que deseja a sua esposa. Mas a proposta é perigosa porque ambos estão deixando de lado a Maldonado, que sempre é o intermediário e tem o poder para mexer as peças como bem ele entender. Desse jeito, deixando fora Maldonado, Sarah e Walter vão ter um ganho superior.
Tempo: uma questão de sobrevivência
Tudo sai errado
Só que tudo sai errado, e agora Sarah precisa de oitenta mil dólares se deseja continuar viva, pois percebeu que passar a perna em Maldonado não é fácil.

Para sair do problema, Jack e Sarah decidem roubar uma joalheria onde trabalha Jenny, uma garota americana que está há pouco tempo em Paris e que está saindo com Jack há apenas quatro dias.

As personagens. -

A história transcorre em um período de oito dias, e muito antes de chegar à metade do filme, começam a aparecer situações que indicam que algumas “coisas” faltam na montagem para que a história seja crível. Sem nos esquecer de mencionar que a relação entre Jack e Jenny é previsível.
Sarah e Jack
Sarah é uma mulher de mais de 40 anos. Ela mora em um apartamento que é do Maldonado e vive com Jack. Não se sabe nada de como ela e Maldonado se envolveram nos negócios ilícitos, mas se percebe que ela tem medo dele. Quando ela chega ao limite do desespero, aparece um ex-marido e um filho, já adulto, que não querem saber nada dela, pois parece que Sarah só os procura quando está precisando de dinheiro. Essa família que aparece como por arte de mágica, desaparece logo do mesmo jeito, sem deixar nenhum rastro. É um elemento adicionado apenas para tentar fazer mais dramática a situação de Sarah.
Jack, Sarah e seu filho
Jack é um aproveitador e um iluso. Sonha em ter um restaurante e acredita que misturando o melhor da comida francesa com o melhor da comida americana, terá sucesso. Só que não faz nada para realizar seu sonho. Ele é um pequeno marginal que rouba carros e está envolvido com Sarah por uma questão de sobrevivência. Parece uma pessoa legal, mas logo percebemos que não tem caráter e se envolve, por meio de mentiras, com Jenny. Na personalidade de Jack faltam algumas coisas: o sonho de ter um restaurante parece só um pretexto no roteiro para criar um “clima” no seu envolvimento com Jenny, tanto é assim que só uma vez ele e Sarah falam desse assunto, em um diálogo de dois segundos. Jack é um rapaz que não tem uma visão ou, melhor dito, não faz nada para ter a visão que ele acredita ter. Ademais, ele fica pulando entre Jenny e Sarah, e quando acha que optará por uma delas, perde o controle que ele acreditava ter.
Jack
Jenny é a personagem mais fraca do filme. Desde a origem da sua conceição, ela foi concebida com mais defeitos que inteligência. É uma menina boba, literalmente. É uma garota americana que está em Paris porque seus pais a castigaram enviando-a para lá com o intuito de que ela amadurecesse, já que ela tinha aprontado na escola, com alguns colegas, manipulando informações e adulterando as notas. Só essa informação de Jenny já mostra que é uma personagem que não tem o que fazer no filme. É possível que haja pais que castiguem seus filhos desse jeito? Jenny parece ser uma garota ingênua ou sonsa, que não percebe como é o mundo que está ao seu redor. Por exemplo, briga em uma banca de jornal com o vendedor porque acha que ele não deu o troco exato. Logo se descobre que ela não sabe diferenciar as diversas moedas francesas: mais um ponto negativo para Jenny. E há mais um: depois que se envolve com Jack, o leva para a joalheria de noite e mostra-lhe a gaveta onde guardam as joias autênticas que não ficam expostas nas vitrines durante a noite.
Jenny

Jack e Jenny
Sarah, Jack e Jenny formam um triângulo amoroso mal formado. Jenny descobre que Jack vive e é sustentado por Sarah, mas permanece no relacionamento. Sarah também descobre a traição de Jack, e permanece com ele. Os conflitos resultantes desse relacionamento não são explorados corretamente. Tudo é muito superficial porque as três personagens se amam e se odeiam numa velocidade supersônica. Se o diretor houvesse querido acertar, poderia ter eliminado o triângulo e ter explorado mais o mundo do tráfico de objetos de valor no qual Sarah está envolvida.
Jack e Jenny na joalheria
E Maldonado, o delinquente que sabe de tudo e parece ter o controle de todo, é uma personagem enigmática, não porque tenha um carisma para sê-lo, mas porque não há nenhum indício no filme para sabermos de onde vêm os seus “poderes oniscientes” sobre Sarah e Walter. É uma personagem, definitivamente, mal elaborada que só serve para justificar a história do roubo e seu trágico final.

Algumas cenas e outros fracassos. -

Vamos comentar brevemente três cenas patéticas que mostram a pobreza do filme devido a que utiliza recursos que não combinam com as suas personagens ou porque são, simplesmente, clichés.
Tempo
A primeira dessas cenas é quando se mostra Jack, nu, tomando banho. A cena aparece sem nenhuma explicação. Não há nenhum ambiente sensual ou erótico nesse momento. Ele está sozinho no apartamento e a câmera faz questão de mostra-lo nu. É como se alguém da produção quisesse ver o traseiro do ator e seu pedido foi realizado, porque não há outra maneira de entender a cena. A cena é bizarra, não porque haja um nu no filme, mas porque há outras cenas onde as personagens estão na cama, e o filme mostra discretamente um braço, ou uma perna. É uma cena mal feita para preencher o tempo, em um filme que dura menos de noventa minutos.

A segunda cena estranha é quando Jenny escuta uma conversa telefónica entre Jack e Sarah e ela assume o papel de detetive e começa a segui-lo. Ela não convence nesse papel justamente por ser uma garota um tanto ingênua, e mais ainda porque o que ela faz, não ajuda em nada no desenvolvimento da história. Inclusive, ela segue Jack e não acontece nada. O que ela estava investigando? Descobriu alguma coisa?... Essa é mais uma cena perdida na história.
Jenny
Jack
A terceira cena é a mais ridícula do filme: quando todos os envolvidos na história dos oitenta mil dólares e a moeda roubada estão juntos, acontece um tiroteio que sabíamos que ia chegar em algum momento; e, de repente, a trilha sonora do filme é um fragmento de uma espécie de canto gregoriano. Aí realmente percebemos que ninguém sabia o que estava fazendo na produção do filme. Os envolvidos na trama estão em um galpão gigante e de repente há um canto gregoriano que não combina com nada do que até esse momento assistimos. Mas que criatividade, faltou bom senso na escolha da música.
Trilha sonora com canto gregoriano!
Ademais das cenas mencionadas há dois momentos que são um tiro no pé do filme. Quando Sarah está com a mulher que vende a moeda, essa senhora idosa tem uma “iluminação” para entender o conflito que vive Sarah com seu namorado, que ela sustenta. É uma visão filosófica sobre a vida e as mulheres que aparece do nada e que em algum momento Sarah tenta conversar sobre ele com Jack, mas tudo é tão rápido, que ninguém mais se lembra do que aconteceu.

O mesmo se pode dizer de Jenny quando conta a Jack uma história sobre dois pingentes. É uma história mitológica muito bonita, já contada de diferentes vezes em “milhares” de filmes e que não combina com a personalidade de Jenny, e pior ainda com a de Jack.
 
Tempo
Palavras finais.-

Com muita frequência aprecem filmes medíocres, e se o tempo é uma questão de sobrevivência, Tempo é um filme que não vale a pena assistir, a não ser que você tenha tempo sobrando para perdê-lo ou queira aprender como fazer um filme ruim.

E se acharem que estou sendo muito duro, suavizemos as palavras: é um filme para uma simples diversão, fraca, e não pode ser levado a sério.

Texto original de Patricio Miguel Trujillo Ortega.

Está proibida a reprodução total o parcial do texto sem a autorização escrita do autor.

22 de fevereiro de 2011

Thoroughly Modern Millie (Positivamente Millie)

Thoroughly Modern Millie (Positivamente Millie), Comédia, Musical, 145 minutos, 1967.

Com Julie Andrews, Mary Tyler Moore, Carol Channing, James Fox, John Gavin.

Direção de George Roy Hill.

Julie Andrews e os musicais dos anos sessenta.-

O musical é um gênero que dificilmente desaparecerá do cinema, pois ele tem uma forma genuína de contar histórias que nenhum outro tipo de gênero consegue. Desde o surgimento dos anos trinta até finais dos sessenta, o musical passou por várias etapas que marcaram gerações das mais diversas formas.

Os musicais evoluíram porque foram se adequando as inovações tecnológicas, ao surgimento de novos talentos musicais e a própria maneira de contar histórias leves, divertidas que, em algumas oportunidades, acompanhavam a evolução da sociedade que “retratavam”.

Nos anos trinta, temos os musicais da época da depressão econômica que, de alguma forma, eram o ‘escapismo’ para os problemas sociais que enfrentavam os cidadãos comuns, com coreografias maravilhosas e sequências musicais. É impossível esquecer Caçadoras de ouro (Gold Diggers of 1933), coreografias fabulosas nas quais impressionavam os cenários e a perfeição das coristas. Na mesma época está Fred Astaire e Ginger Rogers com comédias que se centravam na destreza artística dos protagonistas.
Cartazes de Positivamnte Millie
Nos anos quarenta e cinquenta, com o patriotismo, a guerra e a nova década da prosperidade, os musicais mudaram o rumo das suas histórias, alguns saem do palco e suas histórias acontecem nas ruas das cidades. As coreografias ousadas e fabulosas de Gene Kelly, entre outros, marcam a época de ouro dos musicais de Hollywood com uma lista gigantesca de astros que se imortalizam.

Nos anos sessenta, os musicais mudaram substancialmente: alguns têm uma duração mais longa, outros se misturam com animação e os efeitos especiais passam a ter mais importância. Uma das estrelas da época e Julie Andrews que ganhou fama mundial com dois grandes filmes: Mary Poppins (1964) e A Noviça Rebelde (1965): ambos musicais. Não é de surpreender, então, que ela fosse escolhida para o filme Thoroughly Modern Millie, adaptado ao português como Positivamente Millie: uma comédia musical encantadora, com um roteiro muito ágil, divertido, com personagens cativantes interpretados por grandes artistas da época. Além de Julie Andrew (na época de 32 anos de idade), Mary Tyler Moore, Carol Channing, James Fox e John Gavin, fazem de Positivamente Millie um dos musicais mais engraçados e divertidos da segunda metade dos anos sessenta que, entre outros prêmios, ganhou o Oscar de Melhor Trilha Musical de 1968.
Julie Andreww e Mary Tyler Moore
A história dos loucos anos 20.-

Thoroughle Modern Millie (Positivamente Millie) está ambientado nos loucos anos vinte, especificamente em 1922,  nos quais a mulher conservadora se transforma em uma nova mulher. É a mulher “moderna” que deixa o cabelo comprido para trás; deixa a saia comprida no armário e, ao caminhar pela rua, chama a atenção dos olhares por sua elegância, seu charme e seu poder de sedução.
Thoroughly Modern Millie
Millie Dilmount é a protagonista desta história divertida e satírica dos anos vinte na que, com muito humor, não retrata a época como ela foi, mas com ironia e bom humor. Ela acaba de chegar à Nova York e está decidida em se transformar em essa nova mulher que caminham pelas ruas da cidade grande com grande segurança em sua forma de ser. Ela quer aproveitar da melhor forma o que os novos tempos têm de melhor para lhe oferecer, por isso, ela não gasta tempo e logo se transforma em uma garota moderna.
Thoroughly Modern Millie: Millie e a Srta. Dorothy
Millie está hospedada em um hotel só para “senhoritas”. (Naquela época, havia hotéis que eram exclusivos para mulheres, e velavam pela integridade moral das moças, além de serem os guardiões dos bons costumes da sociedade). O hotel no qual Millie está hospedado é administrado pela terrível Sra. Meers, uma mulher de origem chinesa que tem um negócio ilícito e que se aproveita da ingenuidade dessas “mulheres modernas”.

O principal objetivo de Millie é encontrar um marido rico, por isso ela não está procurando só um trabalho, mas sim um “chefe” com quem se casar. Millie fez uma lista de possíveis chefes que são bons candidatos para tornarem-se “maridos” para ela. Depois de tudo, os anos vinte são os tempos modernos onde as mulheres podem escolher com quem se casar.
Thoroughly Modern Millie Dorothy conhece a seu novo chefe
No hotel, Millie conhece à Srta. Dorothy (Mary Tyler Moore) que faz questão de ser tratada dessa forma: Srta. Dorothy. Ela foi à Nova York com a esperança de se transformar em uma grande artista e, assim como muitas outras senhoritas que se hospedam no hotel da Sra. Meers, ela está sozinha no mundo.

Uma das características mais engraçadas no começo do filme e que surpreende muito a Millie, é o fato de que a Srta. Dorothy tenta sempre pagar suas contas com cheque, pois nunca têm trocado.

Thoroughly Modern Millie: o elevador só funciona com uma 'dança' especial
Millie e a Srta. Dorothy conhecem Jimmy (James Fox), um vendedor de clips de papel que, desde o começo mostra interesse por Millie; no entanto, ela só a aceita a amizade de Jimmy, o que não a impede de passear e cair aos beijos com ele, já que ela não desiste de se casar com o novo chefe que ela tem: Trevor Graydon (John Gavin), um homem que chama Millie de “John” e que se apaixona perdidamente pela Srta. Dorothy.
Thoroughly Modern Millie: Trevor, Millie e Jimmy
Os três amigos vivem um fim de semana fantástico, com grandes aventuras loucas na casa de Muzzi (Carol Channing). Ela é uma senhora de idade avançada, segundo Millie, “alegre e elegante” que desfruta da vida de todas as formas possíveis, e quanto mais excêntrico, melhor. Jimmy conhece Muzzi porque o pai dele foi o jardineiro dela.
Thoroughly Modern Millie
Thoroughly Modern Millie: Muzzi
Muzzi é uma mulher que emana felicidade e paixão pela vida. Ela aproveita cada instante que tem para fazer tudo o que puder: canta (Jazz Baby é um dos excelentes números musicais do filme que retrata o espírito dos anos vinte, com muita alegria e humor), dança, toca todos os instrumentos musicais possíveis, participa de acrobacias e namora a vontade. Todavia, Muzzi é uma pessoa doce que acredita no amor, na honestidade, na sinceridade e que faz de tudo para que as pessoas que estão ao seu lado sejam felizes.

O drama de Positivamente Millie.-

Não há um bom musical que não tenha sua quota de drama que só serve para intensificar a comédia e dar a oportunidade para que seus personagens apareçam em seu melhor estilo.
Thoroughly Modern Millie
Uma das coisas que mais chama à atenção de Millie é que muitas garotas que estavam hospedadas no hotel forma embora repentinamente, sem dizer nada a ninguém. Além disso, em Nova York há um grande mistério que está intrigando todo mundo: continuam desaparecendo mulheres brancas, bonitas e jovens. Millie não sabe o que está acontecendo na cidade, até o momento em que a Srta. Dorothy é sequestrada para ser vendida como escrava branca na China. Ela descobre quem está por trás de tráfico de mulheres e corre para salvar a sua amiga.
Thoroughly Modern Millie: Millie e seu plano para resgatar à Srta. Dorothy
Essa aventura é muito divertida por todos os problemas que aparecem no meio do caminho e pela maneira como se soluciona o problema. Para isso, ela pede ajuda a Jimmy, e juntos pedem ajuda também a Trevor Graydor...
Thoroughly Modern Millie
Lamentavelmente não é possível contar mais detalhes do filme sem revelar os segredos dessa aventura para quem ainda não assistiu Thoroughly Modern Millie. Só podemos dizer que é uma série de sequências dramaticamente divertidíssima, bem humorada, com situações muito originais.

Thoroughly Modern Millie
Cenas marcantes. -

Em um musical como Thoroughly Modern Millie que é dinâmico e divertido, com uma ótima trilha sonora e uma boa coreografia, fica difícil escolher as cenas marcantes, já seja pela música, pelo humor ou por outras características. No entanto, escolhemos quatro cenas como as mais interessantes, o que não significa que sejam as únicas que merecem esse destaque.
Thoroughly Modern Millie: Millie, ao chegar à Nova York
Thoroughly Modern Milli: Millie, uma garota moderna
A primeira cena e a transformação de Millie em mulher moderna. Ela caminha pela rua e depois de entrar em um par de lojas, sofre uma grande transformação. Deixa de ser a mulher ingênua do interior e passa a ser a mulher moderna da grande cidade. Enquanto ela canta essa transformação, há um primeiro plano do colar que usa, da sua nova roupa.
Thoroughly Modernn Millie
A segunda cena marcante é a proeza de Jimmy. Ele precisa falar com Millie que está no seu trabalho, mas não consegue porque a chefe das secretárias do escritório de Trevor Graydon não deixa que ele entre, não só porque é homem e a sua presença perturba o bom comportamento da sociedade, já que só há mulheres trabalhando aí, mas porque o trabalho não é lugar para falar de questões pessoais. Então, ele imita um dos maiores clássicos do cinema mudo, o filme Safety Last (1923) de Harold Lloyd. Jimmy escala a fachada do edifício onde trabalha Milie até chegar ao andar vigésimo. Como é lógico, a subida é difícil e tanto ele quando Millie correm o risco de cair do prédio.
Thoroughly Modern Millie
Outra cena interessante é a inutilidade de Trevor Graydon como herói da história. Ao saber que a Srta. Dorothy foi sequestrada, Millie elabora todo um plano para resgatá-la e conta com a colaboração de Jimmy, transvestido, e de Trevor Graydon, que está loucamente apaixonado pela Srta. Dorothy; no entanto, no momento da verdade, ele não faz nada e é Millie quem leva todo o crédito.
Thoroughly Modern Millie: Trevor é um fracasso como herói
Dos números musicais do filme, além da cena inicial, há que mencionar de maneira especial a dança da tapioca inventada por Jimmy no baile que acontece no hotel onde estão hospedadas Millie e a Srta. Dorothy. O outro número musical original e de bom gosto é o sapateado no elevador: o único jeito de que ele funcione.
Thoroughly Modern Millie: a dança da tapioca
Embora tenhamos falado de quatro cenas marcantes, não podemos deixar de mencionar todas as cenas nas que aparece Muzzi na sua mansão. Ela é uma mulher que surpreende a todo mundo o tempo todo com sua personalidade forte e divertida, além disso, Carol Channing (Muzzi) é magnífica em seu papel, tanto é que foi indicada ao Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel e ganhou o Globo de Ouro.

Positivamente Millie não é considerado um dos maiores musicais dos anos sessenta, mas é definitivamente um dos musicais mais divertidos dessa década.

Texto original de Patricio M. Trujillo O.

Proibida a reprodução total o parcial do texto sem a autorização escrita do autor.