Com Melanie Griffith, Rachael
Leigh Cook, Hugh Dancy.
Direção: Eric Styles.
O filme Tempo, distribuído no
Brasil com o nome de Tempo. Uma questão de sobrevivência
é uma obra para lá de medíocre, e vamos perder um pouco de tempo falando dele porque o cinema está feito assim: filmes bons e
ruins. O lamentável é que às vezes os filmes ruins são mais e melhores distribuídos
que os bons.
A primeira impressão que temos de
Tempo.
Uma questão de sobrevivência é que se trata de um filme agradável de
assistir. A história é ágil, dinâmica e tem uma ótima fotografia. Além disso,
as poucas cenas de ação estão bem montadas, com um bom jogo de planos que
ajuda, muito, na dramatização da obra. Inclusive o efeito visual da fotografia
retratando o passo do tempo é ótimo, além das diversas cenas nas que se utiliza
a sobre-exposição, dando a impressão de que estamos em frente a um filme que,
tecnicamente, está bem. Aliás, até para se tratar de um filme de suspense com
ação, violência, intriga, traição e triângulo amoroso, não se abusa das cenas
de violência.
Tempo. Uma questão de sobrevivência: não se abusa das cenas de violência |
No entanto... -
A história de Tempo
é interessante, embora não seja muito original, o que faz com que ele seja
previsível. Mas, o que destrói realmente o filme são as personagens. Muito mal
concebidas. Extremamente estereotipadas e, o pior de tudo, são ocas e quando
elas tentam ser profundas, caem no
ridículo.
Sarah |
Sarah é uma mulher de meia idade
que mora em Paris e trabalha para um indivíduo inescrupuloso chamado Maldonado,
traficando peças de arte de valor para colecionistas. Ela mora com Jack, que
pela idade dele poderia ser seu filho. Depois que Sarah entrega uma peça,
Walter, um colecionador, entra em contato com ela e lhe pede que viaje a Munique
para conseguir uma moeda que deseja a sua esposa. Mas a proposta é perigosa
porque ambos estão deixando de lado a Maldonado, que sempre é o intermediário e
tem o poder para mexer as peças como bem ele entender. Desse jeito, deixando
fora Maldonado, Sarah e Walter vão ter um ganho superior.
Tempo: uma questão de sobrevivência |
Tudo sai errado |
Só que tudo sai errado, e agora Sarah
precisa de oitenta mil dólares se deseja continuar viva, pois percebeu que
passar a perna em Maldonado não é fácil.
Para sair do problema, Jack e
Sarah decidem roubar uma joalheria onde trabalha Jenny, uma garota americana
que está há pouco tempo em Paris e que está saindo com Jack há apenas quatro
dias.
As personagens. -
A história transcorre em um
período de oito dias, e muito antes de chegar à metade do filme, começam a aparecer
situações que indicam que algumas “coisas” faltam na montagem para que a história
seja crível. Sem nos esquecer de mencionar que a relação entre Jack e Jenny é previsível.
Sarah e Jack |
Sarah é uma mulher de
mais de 40 anos. Ela mora em um apartamento que é do Maldonado e vive com Jack.
Não se sabe nada de como ela e Maldonado se envolveram nos negócios ilícitos,
mas se percebe que ela tem medo dele. Quando ela chega ao limite do desespero, aparece
um ex-marido e um filho, já adulto, que não querem saber nada dela, pois parece
que Sarah só os procura quando está precisando de dinheiro. Essa família que
aparece como por arte de mágica, desaparece logo do mesmo jeito, sem deixar
nenhum rastro. É um elemento adicionado apenas para tentar fazer mais dramática
a situação de Sarah.
Jack, Sarah e seu filho |
Jack é um aproveitador e
um iluso. Sonha em ter um restaurante e acredita que misturando o melhor da
comida francesa com o melhor da comida americana, terá sucesso. Só que não faz
nada para realizar seu sonho. Ele é um pequeno marginal que rouba carros e está
envolvido com Sarah por uma questão de sobrevivência. Parece uma pessoa legal,
mas logo percebemos que não tem caráter e se envolve, por meio de mentiras, com
Jenny. Na personalidade de Jack faltam algumas coisas: o sonho de ter um restaurante
parece só um pretexto no roteiro para criar um “clima” no seu envolvimento com
Jenny, tanto é assim que só uma vez ele e Sarah falam desse assunto, em um
diálogo de dois segundos. Jack é um rapaz que não tem uma visão ou, melhor
dito, não faz nada para ter a visão que ele acredita ter. Ademais, ele fica
pulando entre Jenny e Sarah, e quando acha que optará por uma delas, perde o
controle que ele acreditava ter.
Jack |
Jenny é a personagem mais
fraca do filme. Desde a origem da sua conceição, ela foi concebida com mais
defeitos que inteligência. É uma menina boba, literalmente. É uma garota
americana que está em Paris porque seus pais a castigaram enviando-a para lá
com o intuito de que ela amadurecesse, já que ela tinha aprontado na escola,
com alguns colegas, manipulando informações e adulterando as notas. Só essa
informação de Jenny já mostra que é uma personagem que não tem o que fazer no
filme. É possível que haja pais que castiguem seus filhos desse jeito? Jenny
parece ser uma garota ingênua ou sonsa, que não percebe como é o mundo que está
ao seu redor. Por exemplo, briga em uma banca de jornal com o vendedor porque
acha que ele não deu o troco exato. Logo se descobre que ela não sabe
diferenciar as diversas moedas francesas: mais um ponto negativo para Jenny. E
há mais um: depois que se envolve com Jack, o leva para a joalheria de noite e
mostra-lhe a gaveta onde guardam as joias autênticas que não ficam expostas nas
vitrines durante a noite.
Jenny |
Jack e Jenny |
Sarah, Jack e Jenny formam um
triângulo amoroso mal formado. Jenny descobre que Jack vive e é sustentado por
Sarah, mas permanece no relacionamento. Sarah também descobre a traição de
Jack, e permanece com ele. Os conflitos resultantes desse relacionamento não
são explorados corretamente. Tudo é muito superficial porque as três
personagens se amam e se odeiam numa velocidade supersônica. Se o diretor
houvesse querido acertar, poderia ter eliminado o triângulo e ter explorado
mais o mundo do tráfico de objetos de valor no qual Sarah está envolvida.
Jack e Jenny na joalheria |
E Maldonado, o delinquente
que sabe de tudo e parece ter o controle de todo, é uma personagem enigmática,
não porque tenha um carisma para sê-lo, mas porque não há nenhum indício no
filme para sabermos de onde vêm os seus “poderes oniscientes” sobre Sarah e
Walter. É uma personagem, definitivamente, mal elaborada que só serve para
justificar a história do roubo e seu trágico final.
Algumas cenas e outros fracassos.
-
Vamos comentar brevemente três
cenas patéticas que mostram a pobreza do filme devido a que utiliza recursos
que não combinam com as suas personagens ou porque são, simplesmente, clichés.
Tempo |
A primeira dessas cenas é quando
se mostra Jack, nu, tomando banho. A cena aparece sem nenhuma explicação. Não
há nenhum ambiente sensual ou erótico nesse momento. Ele está sozinho no apartamento
e a câmera faz questão de mostra-lo nu. É como se alguém da produção quisesse
ver o traseiro do ator e seu pedido foi realizado, porque não há outra maneira
de entender a cena. A cena é bizarra, não porque haja um nu no filme, mas
porque há outras cenas onde as personagens estão na cama, e o filme mostra
discretamente um braço, ou uma perna. É uma cena mal feita para preencher o
tempo, em um filme que dura menos de noventa minutos.
A segunda cena estranha é quando
Jenny escuta uma conversa telefónica entre Jack e Sarah e ela assume o papel de
detetive e começa a segui-lo. Ela não convence nesse papel justamente por ser
uma garota um tanto ingênua, e mais ainda porque o que ela faz, não ajuda em
nada no desenvolvimento da história. Inclusive, ela segue Jack e não acontece
nada. O que ela estava investigando? Descobriu alguma coisa?... Essa é mais uma
cena perdida na história.
Jenny |
Jack |
A terceira cena é a mais ridícula
do filme: quando todos os envolvidos na história dos oitenta mil dólares e a
moeda roubada estão juntos, acontece um tiroteio que sabíamos que ia chegar em
algum momento; e, de repente, a trilha sonora do filme é um fragmento de uma
espécie de canto gregoriano. Aí realmente percebemos que ninguém sabia o que
estava fazendo na produção do filme. Os envolvidos na trama estão em um galpão
gigante e de repente há um canto gregoriano que não combina com nada do que até
esse momento assistimos. Mas que criatividade, faltou bom senso na escolha da
música.
Trilha sonora com canto gregoriano! |
Ademais das cenas mencionadas há
dois momentos que são um tiro no pé do filme. Quando Sarah está com a mulher
que vende a moeda, essa senhora idosa tem uma “iluminação” para entender o
conflito que vive Sarah com seu namorado, que ela sustenta. É uma visão
filosófica sobre a vida e as mulheres que aparece do nada e que em algum
momento Sarah tenta conversar sobre ele com Jack, mas tudo é tão rápido, que
ninguém mais se lembra do que aconteceu.
O mesmo se pode dizer de Jenny
quando conta a Jack uma história sobre dois pingentes. É uma história
mitológica muito bonita, já contada de diferentes vezes em “milhares” de filmes
e que não combina com a personalidade de Jenny, e pior ainda com a de Jack.
Palavras finais.-
Com muita frequência aprecem
filmes medíocres, e se o tempo é uma
questão de sobrevivência, Tempo é um filme que não vale a pena
assistir, a não ser que você tenha tempo sobrando para perdê-lo ou queira
aprender como fazer um filme ruim.
E se acharem que estou sendo
muito duro, suavizemos as palavras: é um filme para uma simples diversão,
fraca, e não pode ser levado a sério.
Texto original de Patricio Miguel Trujillo Ortega.
Está proibida a reprodução total o parcial do texto sem a autorização
escrita do autor.
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