Az Pridje Kocour - Um Dia, Um Gato

Az Pridje Kocour, (Um Dia, Um Gato), 1963. Comédia-Fantástica. 110 minutos. República Tcheca.

Com: Václav Babka, Jirina Bohdalová, Pavel Brodsky, Vlastimil Brodsky, Vlasta Chramostová.

Direção: Vojtech Jasný

Um Dia, Um Gato é uma obra prima que deve ser vista por quem gosta de cinema de qualidade. É um filme que ganhou com merecimentos o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 1963.

Um Dia, Um Gato além de ser uma obra feita com uma linda trilha sonora e belíssimos efeitos especiais (ótimos para a época), tem uma história bem feita com atores que fizeram uma obra que não poderá ser esquecida jamais.

48 anos se passaram desde que foi feito este filme na Europa Oriental e a sua magia e beleza continuam tão vigentes quanto na época do seu lançamento. O cenário é outro, os nomes são diferentes, mas as pessoas e seus conflitos continuam sendo os mesmos.

Az Pridje Kocour é a história de um gato mágico que usa óculos e que viaja de cidade em cidade com um mago e uma bela mulher, Diana, que toma conta dele. Quando o gato tira os óculos, as pessoas que são vistas por ele mudam de cor automaticamente: podem ficar amarelas, cinzas, vermelhas ou roxas.

Diana e o Gato

O quê fazer quando você muda de cor e as pessoas descobrem seu verdadeiro eu? O quê fazer quando você não pode esconder mais seu verdadeiro eu?

Essa é a história de Um Dia, Um Gato; porém, quando a verdadeira personalidade das pessoas é posta em evidência, nem todos vão gostar. Enquanto uns não se incomodarão em se mostrar como são, outros farão de tudo para que seus segredos não sejam expostos, até prejudicar sem escrúpulos aos outros.

O filme nos apresenta três personalidades que, junto com o gato, posteriormente, nos guiarão por caminhos diferentes, mas todos terão que chegar a um mesmo ponto de partida.

O senhor Oliva

O senhor Oliva (Václav Babka, que também interpreta o Mago) é o ponto de partida da história. Numa cena muito bonita, ela aparece na janela da torre do relógio da cidade e nos fala da importância de conhecer as pessoas, olhando-as de cima, mas não tão alto quanto os astronautas. Através dele conhecemos os habitantes da cidade: um casal de amantes que é muito feliz, uma mulher fofoqueira que tenta olhar desesperadamente pela janela do quarto dos amantes, um trabalhador que finge que tem problemas nas costas para não ter que trabalhar com a comunidade, e uma mãe solteira muito responsável.

A segunda personalidade é o professor Robert. Aparentemente, ele é uma pessoa fraca, indecisa e sem muitas aspirações na vida. Porém, ele é muito querido por seus alunos e não tem medo de enfrentar a autoridade autoritária e arbitral. Ele fala para os alunos que o fundamental é que apreendam a ser bons cidadãos e seu esforço é para que isso aconteça. Um dia ele pede aos alunos para escreverem o que eles não gostam dos seus pais, e numa das tantas cenas belas do filme, cada caderno dos alunos se transforma em uma tela de cinema e, em preto e branco, eles nos contam como vem a seus pais e como se sentem com isso.

Diana, o Gato e o Mago

O diretor da escola também comanda na cidade. Manipula as pessoas para que façam o que ele quer. É o único que tem autorização para caçar e ele pensa que um animal empalhado é muito melhor para ser estudado que um animal vivo.

Estas três pessoas que compartilham o mesmo espaço passam a se encontrar em outro ângulo com a chegada do gato à cidade.

No mesmo dia que o gato chega, o senhor Oliva, enquanto se faz de modelo para os alunos do professor Robert, conta uma história que aconteceu com ele há muitos anos, quando era jovem e se encontrou com uma bela mulher, um mago e um gato com óculos.

A aula é interrompida; as pessoas nas ruas correm para assistir a chegada dos estranhos personagens (uma bela mulher de vermelho que leva no seu colo um gato com óculos, um mago e outros artistas vestidos de preto). Á noite acontece um magnífico espetáculo de magia até o momento em que Diana tira os óculos do gato. De repente, tudo muda: as pessoas infiéis ficam amarelas; os ladrões ficam cinzas; os apaixonados são vermelhos e, os hipócritas, ambiciosos, egoístas e mentirosos são roxos.

As pessoas, ainda que ninguém lhes disse o significado das cores, se reconhecem e tentam fugir dos olhos do gato. O espetáculo acaba porque todos correm desesperados para se esconderem. Os únicos que não se incomodam são os vermelhos que parecem desfrutar da paixão, e cada passo que dão é uma dança á vida e ao amor. As crianças também não mudam de cor e vêem atônitos o que acontece com os adultos. No meio do tumulto, o gato foge e se inicia a caçada do animal. O professor e as crianças querem encontrá-lo e protegê-lo enquanto os adultos, principalmente o diretor da escola, que foi o único que conseguiu se esconder dos olhos do gato, desejam a morte do mesmo.

Um Dia, um Gato é um belo filme fantástico e metafórico sobre as paixões do ser humanos, os disfarces que usam no dia a dia nas relações interpessoais. Não há uma proposta moralista, mas sim uma reflexão profunda e muito original acerca do quê é a essência do ser humano.

Diana e o professor Robert

O amor, por exemplo, a maior aspiração de todas as pessoas. O senhor Oliva, quando jovem, acompanhou a bela Diana e seu gato e chegou a se apaixonar por ela. Agora, ao chegar à cidade onde mora o senhor Oliva, já um homem maduro, Diana, que continua jovem e bela como no passado, mas não o reconhece, como fala o Mago, porque assim são os jovens com as suas paixões: com o passar dos anos eles esquecem.

Um Dia, um Gato tem um trabalho belíssimo de fotografia e a sua trilha sonora é magnífica. É um conjunto lírico destes dois elementos que fazem desta história um espetáculo, assim como a dança dos habitantes não só quando não podem fugir mais das cores, mas também nas ruas; e o quê se pode falar da animação perfeita durante a apresentação dos artistas na cidade? É uma seqüência de imagens cativantes, sensíveis e profundas. Magnífica!

E qual é a cor do diretor da escola? Como falamos, é a única personagem que consegue fugir do olhar do gato. Será que vamos descobrir a sua verdadeira personalidade?

Diana

Claro que sim. O diretor da escola e as pessoas sem caráter que estão com ele representam a parte crítica do filme ao mundo socialista dos anos sessenta.

A história acontece em uma cidade pequena que vive da agricultura em algum lugar da Europa Oriental, que pode ser na antiga República Tchecoslováquia. Ainda que não se fala de questões políticas abertamente, estas estão presentes com sutileza e, ao mesmo tempo, de forma direta. A cidade é comandada pelo diretor da escola, que manipula as pessoas a sua vontade e estas, não tem força para apresentar uma resistência real até a chegado do gato. E serão as crianças que não terão medo de enfrentar o poder do diretor e as ameaças dos pais que azem o que o diretor manda.

Uma cena interessante na escola que nos remete a esse mundo, e que talvez possa passar desapercebido para o espectador contemporâneo, é quando o diretor está conversando no corredor. Um grupo de crianças muito pequenas sobe as escadas e marcham em silêncio, com os inesquecíveis lenços que usavam as juventudes comunistas.

Az Pridje Kocour (Um Dia, um Gato) é um filme magnífico. Uma espécie de conto de fada: uma alegoria sobre questões humanas que ainda hoje estão presentes na nossa vida. Filme feito com humor, com cenas artísticas de bom gosto e uma qualidade técnica que faz deste um dos melhores filmes de todos os tempos da Europa Oriental.

O DVD deste filme lançado no Brasil é de boa qualidade e tem o áudio original com legendas em inglês e português.

Texto original de Patricio M. Trujillo O.