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Você encontrará neste espaço comentários e analises de filmes de todas as épocas. Uma excelente oportunidade para aprender além do cinema.

Patricio Miguel Trujillo Ortega


15 de março de 2011

Die Deutschmeister - O Imperador e a Padeira

Die DeutschmeisterO Imperador e a Padeira. 1957. Áustria. 106 minutos.

Com Romy Schneider, Magda Schneider, Gretl Schörg, Susi Nicoletti, Paul Hörbirger. Direção: Ernst Marischka.

O Imperador e a Padeira é um belíssimo filme onde se mistura a opereta, a comédia e o romance em uma historia cativante, com belas cenas, lindas paisagens, personagens agradáveis, músicas tradicionais da velha Áustria e atores que são ponto de referência no cinema clásico europeu.

O Imperador e a Padeira é um filme que gostaríamos que não terminasse e é recomendado para pessoas de todas as idades que saibam desfrutar de um canto a vida, aos sonhos e ao amor.

O ponto de partida é a grande e talentosa Romy Schneider (1983-1982). Ela nasceu na Áustria e foi uma das melhores e maiores atrizes da Europa da segunda metade do século vinte. Ela não só triunfou pela sua beleza física e seu talento lingüístico (falava francês, alemão, inglês); ela soube escolher bons filmes e os melhores diretores souberam escolhê-la. Teve a capacidade de fazer sonhar milhares de crianças e adultos no mundo inteiro com sua trilogia de Sissi, escandalizar com Madchen in Uniform (1958), rir com What’s New Pussycat e empatar com tantos outros filmes.

Romy Schneider
Em O Imperador e a Padeira, Romy Schneider faz o papel de uma jovem sonhadora, Stanzi, que mora no interior da Áustria no século dezenove e vai para Viena para fazer realidade o seu futuro.

O filme começa com uma maravilhosa cena no interior da Áustria. Por três diferentes caminhos de uma montanha, descem grupos de pessoas trajadas a rigor, cantando músicas tradicionais para se reunirem na praça de um povoado onde dançam e se divertem na festa da cidade. É muita felicidade. É uma cena bucólica de uma linda paisagem: muitas cores, montanhas, nevados, flores, bosques, pessoas felizes...
As características desta cena bucólica estarão presentes no filme todo onde as personagens vivem seus sonhos; não há lugar para o engano; a tristeza é passageira, os ciúmes são bobos e o amor está em todos os cantos. Todos querem ser felizes e vivem a felicidade, desde o aprendiz desastrado de padeiro até o imponente imperador da Áustria.

Voltemos aos caminhos que nos levam à praça de um povoado do interior. Aí, em meio da alegria e rodeada das suas melhores amigas, Stanzi aceita um papel escolhido por um papagaio que lê a sorte das pessoas. “Seu destino é Viena. Lá conhecerá dois homens...” disse o papel que ela guardará no seu peito como o maior tesouro que tem  e que guiará cada uma das suas futuras ações.

Stanzi parte para Viena onde uma tia dela (Magda Schneider –sua mãe, na vida real) tem uma padaria.

Ao chegar em Viena, Stanzi se aproxima de um policial para perguntar onde fica a rua da padaria. O policial, antes mesmo de ela terminar de fazer a pergunta, a confunde como uma das tantas pessoas que essa noite vão para um luxuoso palacete onde é noite de baile como apresentação de grupos da danças regionais de império Austro-Húngaro. Esta confusão dá início a primeira história de amor do filme, e a mais engraçada de todas. Logo voltaremos nela.

Stanzi se aproxima ao palacete e vê que uma mulher deixa cair um lindo lenço no chão. Ela o pega e entra no palacete para tentar devolver a mulher o seu lenço. Mas, como ela está vestida como ela é, uma camponesa autêntica, é confundida com uma integrante de um dos grupos de dança e é obrigada a participar do baile.

Terminado o baile, ela se dirige ao lugar onde viu que estava a dona do lenço. Ao chegar no camarote da mulher, esta já não está no lugar. Então, Stanzi se senta para contemplar as belíssimas danças que acontecem no salão até que um homem, o barão Zorndorf, encantado pela beleza de Stanzi, se aproxima e conversa com ela. Stanzi não percebe que o barão já está apaixonada por ela e responde com ingenuidade cada uma das perguntas que o barão faz, o que provoca que seja confundida com uma condessa de verdade.

Romy e Magda Schneider
Chegamos então a primeira das três histórias de amor do filme. O barão Zorndorf, acreditando que Stanzi é uma condessa de verdade, fica conversando com ela e no final do baile a leva para rua onde está a casa da tia dela. No dia seguinte, o barão vai procurar Stanzi, mas como no conhece a casa dela, chega na propriedade onde mora de verdade uma condessa que tem uma sobrinha que se chama Nanette. O barão se apresenta para a condessa e conta que esteve com a sobrinha dela a noite toda no baile e pede a mão dela em casamento. A condessa fica admirada pela atitude “correta” do barão (lembremos que estamos no século dezenove) e surpreendida pelo fato da sobrinha ter ido sozinho ao baile. A condessas aceita a proposta de casamento e mais tarde se celebrará a festa de compromisso do noivado.

Nanette nega ter ido ao baile, mas logo chega duvidar se esteve ou não no baile. Depois de tudo, o pai dela teve uma “terrível doença”. Foi sonâmbulo e talvez ela também seja sonâmbula e por isso não lembra se esteve ou não na festa a noite anterior. No começo, Nanette, que não parece muito inteligente, acha que a tia está “caduca”. Depois pensa que o barão é o “caduco” e que ela mesma está “caduca” pois não entende nada do que acontece, mas acaba aceitando o compromisso assumido pela sua tia. A decepção é por conta do barão quando percebe que a Nanette não é a sobrinha que estava procurando, mas aceita a sua obrigação com a condessa. No final da noite, um beijo sem entusiasmo dos comprometidos soluciona o problema e dá origem a um beijo muito mais que apaixonado.

Esta história de confusões e mal-entendidos é bem feita graças ao humor de qualidade do filme. As personagens não são exageradas, os diálogos são inteligentes e precisos. Cada palavra, cada gesto está no lugar certo.

Tia Therese e o Sr. Hofrat
A segunda história de amor é a da tia de Stanzi, Therese. Como já falamos, é a dona da padaria e está sempre chamando atenção de um aprendiz atrapalhado. Preocupa-se por ter um pão de qualidade e mais ainda porque todos os dias, um conselheiro da corte, o Sr. Hofrat, vai para levar dois pães para o Imperador da Áustria. O Sr. Hofrat faz isto há dez anos e desde o começo vemos que está apaixonado por Therese. Ela é viúva e gosta dele também. O Sr. Hofrat, no dia em que chega Stanzi, convida Therese para saírem de noite. Ela acaba aceitando o convite mas finge que não acontece nada para que Stanzi não descubra o encontro que tem essa noite, mas não percebe que a sobrinha ouviu a sua conversa com o Sr. Hofrat e que, sutilmente, a aconselha o que tem que usar para a sua “reunião”.

A terceira história de amor é a de Stanzi. Ela leva ao pé da letra a profecia que um papagaio fez na cidade dela. Stanzi acredita que o que está escrito no papel realmente acontecerá. No primeiro dia de trabalho na padaria, há um desfile pelas ruas de Viena. Uma banda militar passeia tocando marchas militares e o povo, muito alegre, acompanha o desfile dos militares. Assim como no começo do filme, só que agora em Viena, temos uma belas cenas bucólicas da cidade.



Stanzi acompanha o desfile desde a calçada da padaria e um jovem militar que toca o tambor a vê e fica impressionado com a sua beleza. Depois do desfile, ele vai para padaria e fica sem jeito enquanto compra pão e mais pão. Ele é o cabo Jurek, gosta de compor música e pertence ao Regimento 4.

Stanzi percebe então que a profecia começa a se cumprir, pois o 4 é um dos números da sorte que está na profecia que o papagaio fez para ela.

Estas três histórias de amor se misturam deliciosamente com outras personagens que compõe o belo mosaico desta opereta e que traz felicidade para todos. Ninguém sairá perdendo.

O tio do cabo Jurek é o barbeiro. Ele não acredita que o seu sobrinho tenha o dom da música e gostaria que ele se dedicasse à barbearia. O tio é o barbeiro mais atrapalhado que pode existir. Ele consegue queimar a barba do conselheiro e, graças a isso, Therese fica mais interessado no conselheiro. O barbeiro estraga por completo o cabelo do barão Zorndorf e tenta consertá-lo com um livro gigantesco de endereços. O tio do cabo corta o rosto do oficial do cabo Jurek enquanto faz a barba dele. Mas, o barbeiro sempre está feliz, falando até pelos cotovelos e cantando quando é necessário.

Uma vizinha da tia Therese é uma cantora que entra na padaria para conhecer a garota que roubou o olhar do cabo Jurek durante o desfile. Depois de conhecê-la, só tem palavras de incentivo.

Mas, o filme chega ao momento onde a alegria fica tensa por um instante. Só um instante, mas não o suficiente para que as personagens desanimem.

Stanzi acredita que ela tem que intervir –pois a profecia fala disso -para que uma marcha composta pelo cabo Jurek seja conhecida pelo Imperador. Então, ela coloca uma carta em um pão e a partitura da marcha em outro pão. Esses pães estavam destinados para o Imperador da Áustria-Hungria, só que nesse dia, o conselheiro precisa de mais pão, pois está presente em Viena o imperador da Alemanha. E os pães especiais preparados por Stanzi chegaram as mãos do imperador da Alemanha.

Esse fato ousado de Stanzi vai trazer algumas conseqüências que influirão positivamente em todos.

O filme é um canto belo e sensível do lado positivo da vida. Não há efeitos especiais nem recursos tecnológicos da época fora do padrão. Não podemos comparar com os luxuosos musicais feitos na mesma década nos Estados Unidos. Mas o que faz deste filme uma produção maravilhosa é como se pode contar uma historia simples com bom gosto, bom humor, ótimos diálogos, grandes atores e sem nenhum vilão.

O que ainda não compreendo totalmente é a tradução do título em português: O Imperador e a Padeira. Este nome não reflete a história toda e, ao contrário, nos condiciona a esperar algo que não acontece. E mais ainda com o texto escrito na capa do DVD pela distribuidora do filme no Brasil: “Stanzi é uma linda jovem que trabalha com a tia na melhor confeitaria de Viena. Elas fornecem pão para o castelo real e a jovem é cortejada por oficias de altas patentes e nobres, mas se apaixona por um jovem que gosta da música”. É um absurdo gigantesco e exagerado como exagerada é a minha reação quando leio textos que tentam convencer ao espectador de coisas que não acontecem no filme, pois Stanzi em nenhum momento é cortejada por oficias de altas patentes e nobres. O coitado do Barão nunca aparece pela padaria para cortejá-la; e o cabo Jurek é o único que está na vida da bela Stanzi.


No único fato em que acerta a distribuidora é quando fala que o filme é recomendado para pessoas sensíveis de todas as idades e, claro está, em ter distribuído este magnífico filme no Brasil.

Patricio M. Trujillo O.

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