O filme que assistimos...

Você encontrará neste espaço comentários e analises de filmes de todas as épocas. Uma excelente oportunidade para aprender além do cinema.

Patricio Miguel Trujillo Ortega


8 de julho de 2011

Diario de una Ninfómana

Diario de una Ninfómana - Diário Proibido, 2008. Espanha. Drama. 97 minutos.

Com Belén Fabra e participação especial de Geraldine Chaplin.

Dirigido por Christian Molina.

Diario de una Ninfómana é um filme que oferece uma reflexão interessante da vida, das mulheres, das relações sexuais e da eterna busca das pessoas por descobrir aquilo que o satisfaz.

Porém, é lamentável que o filme sofra com uma publicidade enganosa -imagino que por fins comerciais- e o público perde a oportunidade de conhecer esta obra do cinema espanhol que tem muitos pontos positivos.

Falamos de uma publicidade enganosa desde vários pontos de vista: o título e a venda do dvd da edição brasileira.

Comecemos pelo título: Diario de una Ninfómana foi traduzido para o português como Diário Proibido.

Valerie e a sua avó: grande amizade, amor e apio
Grande erro porque Diario de una Ninfómana não é um diário proibido. Ao contrário, Valerie, a protagonista do filme, começa escrever um diário porque a sua avó,com quem tem uma relação de confiança e de apoio, aconselha a colocar no papel as suas dúvidas, idéias, problemas, mas de uma forma interrogativa para que no futuro possa enxergar de fora e entender o que lhe acontece.

Valerie começa então a escrever um diário, embora essa não tenha sido a sugestão da avó que acha que quem escreve um diário é porque se sente sozinho; porém, Val escreve porque tem algo para contar e, como ela afirma, porque no fundo se espera que alguém o leia, na surdina, "para descobrir a verdadeira personalidade do autor".

O diario de Valerie não é proibido
Então, o diario de Valerie não é proibido. Ela não escreve nada além do que ela é: as suas aspirações, frustrações, desejos, tristezas, alegrías. E as pessoas mais íntimas dela, sabem de tudo isso. Por tanto, quando se faz a tradução do título do filme Diario de uma Ninfómana em Diário Proibido passa-se uma idéia errada, como se estivesse frente a um segredo sórdido para satisfazer a nossa curiosidade voyuerista, doentia por saber os segredos sujos de outras pessoas.

Valerie e seus medos
Imagino que isso foi pensado para vender um filme como produto erótico (Ó filme não é erótico. É o drama de uma mulher que quer ser ela mesma -disso falaremos daqui a pouco) com a lamentável conseqüência de distorcer a realidade; depois de tudo, pornografia e sexo se vendem, enquanto que histórias -ainda que não sejam profundas na sua totalidade- que nos enfrentam com os nossos medos e preconceitos, nem sempre são bem-vistos e aproveitados.

 Por tudo isso, ao falor deste filme utilizaremos só o título original em espanhol. O filme se merece!
Valerie quer se sentir bem com ela mesma

A segunda forma de publicidade enganosa para vender este produto são os textos que aparecem na capa e contracapa do filme. Na capa da edição brasileira está escrito: "Ela resolveu desafiar as convenções sociais em busca de prazer" Quando o leitor ingênuo, ou não tão ingênuo, lê essas palavras, cria no seu imaginário uma história "quente" e pode ver uma personagem em uma dimensão totalmente distinta do que ela é. E Valerie, não desafiou nenhuma convenção. É mais: no filme não há questões de familia, de religião, ou de qualquer outra questão social. A única questão que há é a ncessidade de Valerie aprender a se sentir bem com ela mesma...

Do mesmo jeito, na contra-capa, parte do texto que apresenta o filme disse assim: "Val, uma jovem francesa formada em economia que, cansada de sua vida, decidiu se dedicar a aquilo que mais gostava: sexo. Valerie trabalhou como prostituta de luxo por seis meses e parou assim que satisfez sua curiosidade. Ela também gosta de escrever e o faz em seu diário pessoal, onde mantém um registro de suas confissões mais íntimas"... É uma pena que este texto apresente uma idéia tão equivocada do que realmente acontece no filme...

Diario de una Ninfómana é a história de Valerie, uma mulher que está prestes a fazer vinte e nove anos e está passando por uma situação muito difícil na sua vida: ela é ninfómana e não sabe o quê fazer com isso. Ela gostaria, como escreve no seu diário, de se sentir "uma mulher normal", de ser como "o resto das mulheres". Gostaria de sentir que o amor de um homem é tão importante quanto o sexo.

O que é ser uma mulher normal?
Mas, aí vem uma questão que será desenvolvida no filme, e que será justamente o que Valerie terá que descobrir: o que é ser uma mulher normal?

A avó de Valerie, uma mulher já idosa e que logo morrerá, deixando um vazio muito grande na vida dela, conta para a sua neta que quando ele era nova, uma mulher solteira só tinha duas opções: o casamento ou a prostituição. E afirma que isso significava a mesma coisa e que se ela pudesse voltar para trás, ela faria muito sexo, até não poder.

Valerie confessa a sua avó que ela é ninfómana porque necessita de sexo e está se sentindo mal porque só quer sexo e sabe que ninguém lhe compreende e que a olham de um jeito ruim. Valerie tem medo de não ser como as outras mulheres e de que alguém lhe machuque. Tem medo também de não poder viver só com um homem e de não ter família.

Depois de catorze anos da sua primeira experiência sexual, ela continua tendo o mesmo desejo de experimentar através de seu corpo; só que agora, tem medo.

A sua avó fala então uma grande verdade: "aproveite a vida".
Aproveite a vida

Ela aconselha antes de morrer a Valerie que deve viver a vida a plenitude e que "ninfomania" é um invento dos homens para que as mulheres se sentam culpadas se quiserem sair da linha. Por isso, fala para Valerie que cada pessoa é como é e que nunca renuncie a algo que anseia de verdade, pois logo vais se arrepender.

Valerie escuta o que a sua avó fala, mas também escuta os medos que atormentam a sua vida e passará por uma série de fases até descobrir a sua verdade...
Primeira experiência frustrante
Comunica-se com seu corpo

Valérie tive a sua primeira experiência sexual aos quinze anos. Ela relata que não ficou satisfeita nesse primeiro encontro e, quando voltava para o seu quarto, decidiu regressar porque estava segura de que faltava algo. Então, ela toma a iniciativa e o comando da situação até se sentir totalmente satisfeita. Começa a partir desse momento uma vida de encontros onde o seu objetivo é "se comunicar através do seu corpo, uma curiosidade inata de experimentar através de um beijo, uma caricia ou o contato com a sua pele".

O filme apresenta uma bela seqüência de fotografias em movimentos laterais, uma atrás da outra, num total de nove cenas de sexo de Valerie com diferentes homens. As cenas apresentam sempre a Valerie em um primeiro plano e a câmara se concentra nela, no seu corpo, geralmente de ciuntura para cima, em nu frontal, e na felicidade e satisfação do seu rosto. Valerie comanda cada uma das situações.

Ao longo do filme, se apresentam muitas cenas de Valerie totalmente nua tanto de frente quando de costas, mas sem nenhum conceito nem erótico nem pornográfico. A fotografia tenta retratar o que o corpo e a sexualidade representam para ela: algo natural, bonito, necessário que faz bem para ela sem preconceitos pecaminosos nem de nenhuma outra índole.
Valerie tem relações ocasionais com muitos homens; porém, há dois amantes que são o ponto de partida para a crise existências dela. O primeiro é Hssam. É um estrangeiro com quem tem sintonia total. Quando se encontram, os dois se complementam naquilo que gostam de fazer: sexo. O outro homem é Alex. Sempre que está com ele, Valerie quer mais sexo, mais sexo e mais sexo. Só pensa em fazer sexo e ele não agüenta mais. Então, acabam brigando e ele pede para que Valerie não o procure mais.
Valerie: esgotada, perdida
Esta briga prova nela a crise que a leva a conversar com a sua avó e a refletir sob o fato dela ser ninfómana. Embora gosta de sexo e de que os homens queiram ter sexo com ela, começa a pensar que quer algo mais para a sua vida: quer ser como o resto das mulheres.

Esta crise coincide com a morte da sua avó e com o fato dela perder seu trabalho. Se sente esgotada e até sem forças para sair a rua para procurar um homem, o que costuma fazer quando tem necessidade disso; porém, Valerie tem uma amiga que sabe como ela é e a respeita, a compreende e está sempre disposta a ajudá-la, embora elas sejam totalmente diferentes. A amiga de Valerie quer um homem que a ame e que, se é possível, que lhe envie flores enquanto que Valerie quer um homem para fazer sexo e ela lhe enviar flores.

Valerie se apaixona
Valerie se prepara
Pronto para o encontro
Como a vida continua, ela procura trabalho e se apresentam duas opões. Na segunda entrevista, ela se deixa seduzir por quem poderia ser seu futuro chefe: Jaime Rijas. Embora ele seja muito maior que ela, Valerie descobre nele o que não tinha encontrado até esse momento em nenhum homem. Ela afirma que ele é culto, inteligente, lhe da segurança, lhe cudia. A sua amiga se surpreende, assim como a própria Valerie: pela primeira vez ela está apaixonada e se sente feliz porque está encantada de que as pessoas a vejam agora como vem ao resto das mulheres.
Finalmente não sente necessidade de estar com outros homens.

E como algo significativo, Valerie por fim consegue desligar as luzes, porque até então, ela sempre teve medo da escuridão e enquanto fazia sexo, sempre precisava estar com as luzes ligadas.

Prostituta de luxo
Porém, com o passar do tempo, Jaime Rijas mostra seu verdadeiro lado. No lugar de um homem culto, inteligente, que a cuida e da segurança, aparece um homem neurótico, possessivo, agressivo, dominante, violento e que sabe como humilhá-la. Valerie, com a ajuda da sua fiel amiga, abandona Jaime Rijas e fica fechada no seu departamento, deprimida durante muito tempo. Mas, pouco a pouco, recupera sua vitalidade e como ela mesma fala, "depois de vários meses sem ter nenhum orgasmo, sente que seu corpo começa a acordar de um longo e eterno letargo". Então, decide trabalhar como prostituta de luxo.

O filme não se preocupa muito nas questões do abuso da prostituição e todas as implicações sociais que isto acarreta. Só da algumas pinceladas através de uma das prostitutas que fica amiga de Valeria, Cindy, uma mulher que agüenta tudo porque tem um filho que mora com a mãe dele e deseja recuperá-lo. Agüenta tudo até cometer suicídio, que é o ponto fraco do filme, pois ficam muitos elementos soltos e parece que foi feito mais como um elo para justificar como uma das causas que fará que Valerie, alguns meses depois, desista de ser prostituta.
Valerie é estrupada por um cliente
Mas até chegar esse momento, Valerie tenta encontrar na prostituição aquilo que não encontrou com Jaime Rijas e, pouco a pouco, conforme faz seu trabalho com verdadeiro deleite, enquanto que para as outras prostitutas é uma tarefa cansativa, volta a pensar na possibilidade de se apaixonar por um cliente. Valerie não escuta o que lhe dizem e só compreenderá o verdadeiro significado da prostituição quando é estrupada por um cliente e passa a sentir nojo por outro por quem ela estava se apaixonando. É aí que Valeie lembra e etende o que a sua avó falou quando afirmou que o matrimonio e a prostituição não são muito diferentes: a vida de uma pessoa deixa de ter algum valor quando se converte em "propriedade" de outra pessoa.
Extasiada com o movimento dos dedos

Porém, a experiência mais significativa e que ajuda para que Valerie finalmente encontre o que está procurando desde o começõ, acontece com seu último cliente. É um rapaz deficiente físicamente e que fica extasiado com o movimento dos dedos, com a possibilidade que tem uma pessoa de usar a mão. Deste encontro, Valerie aproveita o melhor conselho que o cliente da para ela, naõ só para abandonar defintivamente a prostituição, se não para encontrar seu rumo: "Aproveite, mesmo, todos os dias da sua vida, Valerie. Viva!".

A avó já tinha lhe dito também: Aproveite a vida tudo o que puder.

Valerie finalmente é ela mesma
E mais ainda a própria experiência de vida de seu último cliente: "Sempre percebemos as coisas quando é tarde demais".

Reconhecimento, prazer, autoestima, amor, carinho
Valerie então chega finalmente a sua própria conclusão: ela tem que ser ela mesma. Não precisa mais se comprarar com as outras mulheres. Não importa o que falem as outras pessoas: ela tem que viver a sua vida, de bem com ela mesma.

"Sei que sou uma mulher promíscua porque pretndo utilizar o sexo como meio para encontrar o que todo o mundo procura: reconhecimento, prazer, autoestima e, em definitiva, amor, carinho. O quê há de patológico nisso? Não importa como me chamem..."

Esta é a verdadeira riqueza de Diario de una Ninfómana: Todas as pessoas procuram recochecimento, prazer, autoestima, amor, carinho.

Qual é o problema de Valerie gostar de sexo?

No começõ do filme, ela lembra para sua avó o que a sociedade pensa das mulheres: "um homem que transa é um machão; se for uma muher, é uma vadia". Só que aogra Valerie já está livre desse medo: ela é ela mesma e é feliz sendo ela, ainda que para isso tenha caminhado por uma trilha longa e sofrida para descobrir que pode ser feliz sem necessidade de se comparar aos outros.

Texto original de Patricio M Trujillo O.

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