O filme que assistimos...

Você encontrará neste espaço comentários e analises de filmes de todas as épocas. Uma excelente oportunidade para aprender além do cinema.

Patricio Miguel Trujillo Ortega


16 de julho de 2011

Capricorn One - Capricórnio Um

Capricorn One – Capricórnio Um, 1978. USA. 125 minutos. Ficção.

Com Elliott Could, James Brolin, Brenda Vaccaro, Sam Waterston, O. J. Simpson, Hal Holbrook, Karen black, Robert Walden.

Direção: Peter Hyams
 
Capricórnio Um é um filme empolgante que apesar de datar de 1978 é atual na nossa sociedade visual, virtual e tecnológica que faz de nós, cada dia, seres mais dependentes do que vemos e ouvimos... e não temos tempo nem meios para saber se o que vemos e ouvimos é mesmo verdade.

Capricórnio Um mostra também o poder que há atrás do poder e que é capaz de mover seus braços em todas as direções com um único objetivo: manter-se, manter o “statuo quo”, ainda que para isso se tenha que transformar uma grande mentira em uma grande verdade...

E nos deixa então uma pergunta: tudo aquilo que nós “repetimos” diariamente nas escolas, nos escritórios, nos restaurantes, nas discussões mais acaloradas realmente aconteceu?
Realmente aconteceu?
Tudo aquilo que está na capa de uma revista impressa a cores, em um site da internet, num livro de história é mesmo verdade?

E até que ponto essa verdade ou mentira pode comandar as nossas vidas? Até que ponto nós aceitamos ser comandados?

O que se perde?

O que se ganha?

O lançamento
Emfim... Talvez quando Capricórnio Um foi filmado não foi pensado em todas estas coisas e sem na realidade política-militar-espacial que vivia o mundo em plena guerra fria, quando a guerra das galáxias era manchete dos principais jornais e revistas e as duas grandes potências mundiais da época lutavam pelo controle da terra e do espaço.

Ou talvez sim fosse pensado nisso, mas o filme não faz um discurso tendencioso - embora o desenrolar das ações e o comportamento das personagens possam nos induzir a um pensamento específico -, tanto é assim que o final do filme fica em aberto, ainda que possamos imaginar o que vai acontecer...

Capricórnio Um começa com os preparativos finais para o lançamento do primeiro voo tripulado a Marte. O mundo acompanha através da televisão cada uma das etapas, minuto por minuto, até o momento final em que os três pilotos: Charles Brubaker, Peter Willis e John Walker entram na nave que os levará ao planeta vermelho.
Os pilotos tem que sair da nave
Enquanto o mundo acompanha os detalhes desta grande viagem que faz dos Estados Unidos uma potência líder no espaço e mostra ao mundo que o seu povo não pode ficar escondido em casa escutando na televisão as notícias do que acontece – como se falará um pouco depois no filme – há um parênteses na história que, na verdade, é o telão de fundo: entre o público presente para assistir ao lançamento está um senador e o vice-presidente dos Estados Unidos. Por meio da conversa deles descobrimos o que acontece no jogo do poder: uns acham que é perda de dinheiro gastar milhões no espaço enquanto outros pensam que o país precisa recuperar a liderança mundial.

Os pilotos agora são "prisioneiros"
O que parece um simples diálogo sarcástico-diplomático entre as duas autoridades, é na verdade, uma guerra de poderes em que a vítima nem imagina que está participando dela.

Quando os três pilotos estão prontos para partir, o diretor do programa e amigo íntimo de Brubaker, o Dr. James Kellaway, os obriga a sair da nave. Sem alternativa, eles caminham atrás de Kellaway enquanto o expectador continua escutando a contagem regressiva até que a nave vá para o espaço.

Os pilotos são conduzidos de avião até uma base secreta e abandonada no meio do deserto. Aí eles ficam “prisioneiros”, ainda que não seja dita essa palavra, com a chantagem que o Dr. Kellaways faz: se eles não aceitam a proposta que lhes fazem, explodirá no ar o avião da Nasa que voa para Houston com as esposas deles.

A farsa: o homem em Marte
Sem terem outra opção, os pilotos aceitam o que lhes é exigido: ficam confinados nessa base militar onde está montado um estudo de televisão que recria o planeta vermelho. Daí se transmitirá ao mundo por rádio e TV a suposta viagem que eles estão fazendo para Marte.

O pretexto para montar este engano mundial é porque no setor político há muitas pessoas que estão contra os gastos milionários na aventura espacial e o projeto da viagem a Marte não poderia falhar; mas, para azar dos pilotos, o voo está condenado ao fracasso porque uma das peças fundamentais da nave não funciona.

Os astronautas, durante vários meses, ficam colaborando com a farsa; mas, quando tudo parece que está indo bem, Elliot Whitter, um operador que trabalha na consola 39 na sala de controle do voo, percebe que há um erro na velocidade de transmissão dos dados e utilizando um programa próprio confirma que há algo errado. Elliot comunica a seus superiores do que acontece e ao perceber que eles reagem de uma forma muito esquisita, conversa rapidamente com um amigo seu, o jornalista Robert Caulfied, ainda que não chegasse revelar muita informação.

Elliot Whitter... nenhum sinal de que ele sequer existisse
Elliot Whitter, de repente, some do mapa. Não há nenhum sinal de que ele sequer existisse e, pior ainda, de que algum dia tivesse trabalhado na Nasa. Então, seu amigo, Robert Caulfried, começa procurar sinais do que aconteceu com Elliot e, no lugar de encontrar uma resposta, sofre vários atentados contra a sua vida. Atentados que fracassam e que só geram uma ânsia de descobrir a verdade.

Mas a verdade não pode ser descoberta e as autoridades do projeto espacial informam a mundo que a nave, segundos antes de chegar à Terra, explodiu por uma falha no sistema de proteção ao entrar na atmosfera. O mundo fica chocado, mas ninguém esquecerá os novos heróis que conseguem fugir da base militar quando percebem que serão assassinados.

Os pilotos perdidos no deserto
Os três pilotos, com poucas provisões e sem saber onde estão, caminham pelo deserto na tentativa angustiante de sobreviver e poder gritar ao mundo que a conquista de Marte não passou de uma farsa.

Capricórnio Um é um filme dinâmico na sua maior parte; talvez os momentos onde se perde um pouco a velocidade são quando o jornalista Caulfried descobre a verdade e a lentidão da esposa de Brubaker para compreender uma mensagem escondida que seu esposo lhe enviou para que percebesse que as coisas não eram como o mundo imaginava.

Porém, vale a pena destacar a beleza e a ótima qualidade de duas cenas em especial. A primeira é quando Caulfried descobre tardiamente que seu carro foi sabotado e tem que ir em altíssima velocidade pelas ruas da cidade. A segunda cena de muita empolgação é a fuga escape de um dos pilotos com a ajuda do jornalista em um velho avião utilizado para fumigar os campos.

O carro sabotado de Caulfried
A última tentativa de fuga
Das personagens, podemos destacar os seguintes elementos:

Brubaker, o comandante da missão, tenta desde o começo rejeitar a farsa e luta por contar a verdade. Ele se preocupa com ele mesmo, com a sua família, com seus amigos, mas principalmente com a necessidade de ser honesto. O piloto é protótipo do que se espera de um cidadão.

O Dr. James Kellaway é um homem sem caráter. Ele prefere matar seus amigos (ele e Brubaker são amigos há dezesseis anos) para se mantar no programa. Para ele, as pessoas são só um meio para chegar a seus sonhos. É egoísta, manipulador e cruel.

Verdades manipuladas para sastisfazer um simples ego de "líderes"
O jornalista Caulfried é um homem que não é respeitado por seu chefe. É considerado um profissional medíocre que tenta ter um “furo”. A luta na que entra para descobrir a verdade não passa de ter o “furo” que todo jornalista procura; mas, no decorrer dos acontecimentos, o transforma na necessidade de salvar os pilotos, de encontrar seu amigo Elliot, de deixar suas pequenas ambiciones pela verdade. Não é um grande herói no estereótipo que estamos acostumados no cinema: não sabe brigar, não é charmoso e não tem carisma; mas não desiste.

Elliot é um jovem ingênuo, idealista e ambicioso. Quando descobre que os dados não são como deveriam ser, tenta impressionar seus chefes sem perceber que há perigos no meio do caminho e que nem tudo se soluciona com a “boa vontade”.

Ao terminar de assistir Capricórnio Um fica uma sensação de impotência perante as garras ocultas do poder e a vulnerabilidade da sociedade que pode ser manipulada a vontade para satisfazer um simples ego de “líderes” que preferem sacrificar a humanidade para seu próprio benefício egoísta.

Capricórnio Um é um filme de ficção que, como falamos no começo, depois de mais de 30 anos permanece atual e está a nossa disposição em um dvd de boa qualidade com áudio original e legendas em português.

Patricio M. Trujillo O.

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