O filme que assistimos...

Você encontrará neste espaço comentários e analises de filmes de todas as épocas. Uma excelente oportunidade para aprender além do cinema.

Patricio Miguel Trujillo Ortega


16 de agosto de 2011

O Móbile: Admiração

O Móbile: Admiração, Drama - Romance, 2008, 25 minutos, Brasil.

Con Nadja Dulci, Stefane Ribeiro.

Direção: Lilian Werneck.

O Móbile: Admiração é um curta metragem muito interessante, inspirado em um grande filme alemão de 1972: As Lágrimas de Petra von Kant.

A fotografia de O Móbile: Admiração é boa; suas personagens são dramaticamente complexas e interessantes; a história surpreende pela delicadeza e o bom gosto para narrar um drama de amor que vai além do amor: o drama de ter que fazer uma escolha porque, como toda as escolhas, essas não são fáceis.
O Móbile: Admiração é uma história de duas mulheres que se admiram sem se conhecer e que o destino, num momento importantíssimo na vida profissional delas, as leva a um encontro tão profundo de paixão e amor, que custa entender o sacrifício que elas terão que fazer.

Nina Maya e Bárbara Oliveira são as duas personagens desta história.

Nina é uma atriz de teatro que se encontra ensaiando, para representar numa peça, o papel de Petra, uma mulher complexa que ama a Karina. Esta representação não é fácil para Nina, pois segundo suas palavras, quando ela pensa em estar com uma mulher tem medo de ser feliz e de viver um grande amor. Porém, o diretor lhe desafia a vencer esse medo, pois está convencido que Nina pode representar muito bem Petra.

Os ensaios para Nina estão sendo difíceis e se sente travada, apesar de que procura inspiração nos quadros de uma artista que admira muito, mas não a conhece: Bárbara Oliveira.

Enquanto isso, Bárbara Oliveira está no seu melhor momento de criatividade. Segundo Catarina, sua agente e sua ex-namorada, ela nunca pintou tanto e tão bem desde que tem um mural de inspiração no seu atelier: umas fotos da atriz Nina Maya. Catarina, inclusive, acha que Bárbara está apaixonada pela atriz.

Estas duas personagens são apresentadas no começo do filme de uma forma muito singular. Primeiro está Nina que está ensaiando com dificuldade. Prevalecem os primeiros planos da atriz e, por um instante, a foto de uma pintura - logo saberemos que essa pintura é de Bárbara - no meio do texto que ela está tentando decorar com problemas. As imagens são rápidas, movimentadas e conseguem mostrar a dificuldades de Nina para ser Petra.
Como se fosse uma linha paralela, as imagens de Nina são intercaladas com as de Bárbara que está no seu atelier pintando. Os movimentos da artista plástica são rápidos e a câmera mostra as diferentes etapas na produção da obra. São movimentos fortes, com paixão, um atrás de outro e, como na cena de Nina, prevalece também primeiríssimos planos do rosto da artista até que numa extrema velocidade as imagens se misturam e estamos novamente no ensaio de Nina.

Esta conjugação de fotografia representa a união idílica entre as duas mulheres que se admiram, mas não se conhecem. No entanto, logo elas terão a oportunidade que tanto desejam. Nina entra na exposição de Bárbara e, depois de admirar por algum tempo o quadro do que gosta tanto, finalmente conhece a artística plástica. Frente a frente, Nina e Bárbara se admiram e praticamente o mundo desaparece para elas: nesse novo mundo só existem as duas mulheres: Nina e Bárbara, e Bárbara e Nina.Isso é conseguido de uma forma bela através dos primeiros planos de seus olhos e seus rostos.
Nina e Bárbara na exposição
Quando Nina mostra a Bárbara a fotografia da pintura dela, as suas mãos se tocam e seus dedos vão se separando devagar; sorriem nervosamente até que Bárbara se aproxima e fala alguma coisa no ouvido de Nina. A imagem se escurece e logo ambas estão juntas, numa discoteca, dançando. Elas estão somente para elas e as imagens novamente mostram seus rostos, suas mãos, suas bocas, seus beijos ao ritmo da música da discoteca. Logo aparecem num quarto, se acariciando. Os movimentos são rápidos numa coreografia sincronizada de seus corpos vistos de perfil, em cor escura e fundo azul.

 A admiração cedeu passo ao amor. Nina e Bárbara declaram o sua paixão, se amam mutuamente e desfrutam cada momento da vida delas. Há uma série de imagens da vida cotidiana que mostra as duas namoradas compartilhando cada momento da vida: desde escovar os dentes juntas até estarem lendo um livro. Nina e Bárbara declaram seu amor e a câmera se concentra nas mãos delas que se acariciam enquanto a cena escurece.

É comum que nas histórias de amor logo da paixão haja um momento de esfriamento e tudo volta ao normal. Os filmes tentam mostrar geralmente que as pessoas voltam a seu ritmo natural e começam aparecer os problemas de casal. Porém, O Móbile: Admiração consegue fugir desta solução tão simplista que é característico de muitos filmes, porque Nina e Bárbara são duas pessoas que continuam se amando e a paixão não para de crescer; mas, o problema é outro. Até que o ponto o amor interfere na vida profissional de cada uma delas?

Nina ainda não consegue representar Petra. Ela é tão feliz amando Bárbara que esta alegria é como uma enchente que sai de seu corpo sem nenhum tipo de ataduras. Definitivamente já não tem medo de amar e de ser feliz, só que isto é oposto do que representa Petra, a sua personagem que precisa mostrar sofrimento. Nina, paradoxalmente, agora que está apaixonada e feliz tem mais dificuldade em representar a sua personagem que no começo da história.

Por sua vez, Bárbara também tem dificuldades com seu trabalho. Depois que começou seu relacionamento com Nina, não consegue mais pintar com a mesma paixão e as suas ideias simplesmente foram embora. Contrastando com o começo do filme, a diretora mostra Bárbara no seu atelier trabalhando devagar. A câmera não tem mais a velocidade do começo do filme. A inspiração de Bárbara parece ter ido embora e ela acaba jogando tinta no seu “mural” de Nina: esse mural que no começo da história era sua inspiração.

O que tem que fazer as duas mulheres? Bárbara está triste e lembra o começo do seu relacionamento com Nina, mas pensa que não necessita de mais nada. Ela ama Nina e com isso está satisfeita e acha que pode continuar a vida assim.
Porém, Nina acha que o problema delas é que se amam demais e isso está prejudicando o trabalho delas e toma uma difícil decisão.

O Móbile: Admiração apresenta uma história de amor complexa entre duas pessoas que encontram o que mais querem: o amor da outra pessoa; mas nem sempre é possível ter esse amor quando a pessoa tem uma aspiração tão profunda que vai mais além desse relacionamento.

Nina e Bárbara são duas personagens bem construídas e um grande mérito que deve ser destacado do filme é que estas duas mulheres lésbicas são apresentadas pelo que são como mulheres e como profissionais, e não pela sua sexualidade. São duas mulheres que procuram o amor e a realização de seu lado profissional ao mesmo tempo, algo que nem sempre é fácil de acontecer. O fato de elas serem lésbicas não entra em jogo: elas são mulheres que amam mulheres, e não há problema nenhum nisso. Não há esses terríveis preconceitos que sufocam a nossa sociedade nem os estereótipos com os quais lamentavelmente as lésbicas são apresentadas, inclusive em filmes.

Para finalizar, O Móbile: Admiração foi colocado pela sua diretora na internet para que todos possam assistir ou baixar. Grande iniciativa que ajuda a divulgar belas produções destinadas a pessoas de todas as idades e condições e que gostam de um bom filme.

Texto original de Patricio M. Trujillo O.

Está prohibida la reproduccion total o parcial del texto.





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