O filme que assistimos...

Você encontrará neste espaço comentários e analises de filmes de todas as épocas. Uma excelente oportunidade para aprender além do cinema.

Patricio Miguel Trujillo Ortega


4 de junho de 2011

What's up, Doc?


What’s up, Doc? Comédia, 1972. 94 minutos. USA.

Com: Barbara Streisand, Ryan O’neal.

Direção: Peter Bogdanovich.

What’s up, Dock? é uma das poucas comédias “screwball” (comédias malucas) fora do seu tempo que conseguem seu objetivo: contar uma história hilariante, bem construída, com personagens engraçados e com um roteiro coerente, onde as falas e os movimentos estão bem sincronizados.

Tudo isto foi possível graças ao trabalho detalhista do seu diretor, Peter Bogdanovich, um admirador das comédias malucas e que com este filme tentou, e conseguiu com sucesso e qualidade, reproduzir um filme que nos lembra o melhor das comédias malucas dos anos trinta e quarenta do século passado.

Foi nessa época que o “screwball” (misturando confusão com identidades trocadas, romance, problemas de classes econômicas, entre outros elementos) produz grandes filmes que até hoje estão entre os melhores de todos os tempos, com atores que se consagraram não somente com papéis engraçadíssimos, mas que foram capazes de interpretações memoráveis em outros gêneros do cinema. Falamos de Cary Grant e Katharine Hapburn na imortal Bringing Up Baby (1938, Levada da Breca em português), Clark Gable e Claudette Colbert em It Happened One Night (1934, Aconteceu Naquela Noite).
Barbara Streisand e Ryan O'Neal
Peter Bogdanovich conseguiu, em 1972, com What’s up, Dock? fazer um filme magnífico que até hoje ainda não foi superado.

Barbara Streisand, em uma magnífica interpretação como Judy Maxell, e Ryan O’Neal, que no filme nos lembra a Cary Grant e Harold Lloyd –lógico que sem chegar a qualidade indiscutível deste dois grandes astros do cinema-, como Howard Bannister se metem numa confusão cheia de aventuras, perigos e romance na cidade de São Francisco.

E a confusão toda começa com uma mala. Uma mala vermelha com desenho de tecido tipo escocês. Melhor dizendo: quatro malas idênticas que chegam ao mesmo destino: o Hotel Bristol. A primeira mala tem documentos secretos de estados que são levados por um senhor misterioso, o senhor Smith (quem quase não fala nada); a segunda mala tem as roupas pessoais de Judy Maxell; a tercerira, tem umas rochas ígneas de pre-paleozoi com as quais Howard Bannister pretende ganhar uma contribuição em dinheiro para o desenvolvimento de uma teoria musical esquisita; e, por última, a mala da senhora Van Hoskins que guarda suas jóias muito valiosas.

Barbara Streisand como Judy Maxell
Um homem, tão misterioso quanto o senhor Smith, segue o senhor Smith desde o aeroporto até o hotel com o objetivo de tirar a mala dele sem que ninguém perceba nada. Tanto é assim, que ninguém percebe no hotel que há tantas malas idênticas. Quando a senhora Van Hoskins chega na recepção do hotel, o recepcionista dá o sinal verde para que outro indivíduo, tão misterioso quanto os dois anteriores, tente roubar a mala com as jóias.

Enquanto essas quatro pessoas se preparam para uma luta desesperada para roubar e não ser roubados (com exceção da senhora Van Hoskins que não sabe o que está acontecendo), estão no hotel as outras duas malas que se misturam com as anteriores e provocam a maior confusão e tudo porque os hóspedes estão no mesmo andar, com quartos contíguos e portas que podem comunicar uma habitação com a outra.

Podemos dividir o filme em quatro grandes cenas.

Howard e Eunice
A primeira acontece no aeroporto e nas ruas de São Francisco até a chegado ao hotel Bristol, onde são apresentadas as personagens e as malas. Esta primeira parte é rápida, misteriosa e desde o começo o público já se prepara para a confusão.

Aí também conhecemos aos dois personagens principais do filme: Jyde Maxell e Howard Bannister.

Judy Maxell é uma garota bonita, muito atrevida, não tem vergonha de nada e não aceita um “não” como resposta. Não se dá por vencida facilmente e vai até o final para conseguir o que ela quer. Ela fala rápido, responde com agilidade e sabe de tudo (pois já fez muitos cursos na universidade –ainda que não terminou nenhum); ela é doce, inteligente e cativa as pessoas com facilidade; mas, o fundamental nela são três aspectos: se ela tem uma idéia, não há quem possa fazê-la mudar de opinião; se apaixona a primeira vista de Howard e decide conquistá-lo; e, por último, quando a situação parece se complicar para Howard, decide também ajudá-lo a conseguir o que tanto ele quer, sem se preocupar em nada com o que possa acontecer e as conseqüências de seus atos. Atos que são bem intencionados, sem malícia e que tudo se pode resumir em uma frase: Judy Maxell é uma apaixonada pela vida.

Confusões no hotel
O outro personagen, Howard Bannister, é um homem comprometido com a sua noiva Eunice, que faz tudo para ele e controla a sua vida, pois se não fizesse isso, Howard estaria perdido totalmente no mundo. Ele é um músico que vai para São Francisco para participar de uma Convenção Americana Musicóloga onde participa, com outra pessoa, como finalista para receber a ajuda de vinte mil dólares para desenvolver seu trabalho musical. Ele quer demonstrar como os homens primitivos já faziam musica com as rochas ígeneas. Howard é distraído, não sabe onde estão as coisas, esquece tudo facilmente e quando tudo se complica ao seu redor, olha a câmera, no melhor estilo do cinema mudo, e grita “Help!”.

Nas ruas de São Francisco
A segunda cena –demorada, dinâmica e engraçada- do filme acontece no corredor onde estão as habitações dos donos das famosas malas vermelhas. É um abrir e fechar de portas; é um entrar e sair de uma habitação para outra; é a tentativa de pegar a mala e tirá-la do hotel sem que ninguém perceba; é o desespero para esconder a mala porque não se consegue tirá-la do hotel; é um se esconder precipitadamente para não ser visto nem identificado; é Judy entrando na habitação de Howard e tomando banho; é o Howard desesperado porque não sabe o que Judy faz na sua habitação e Eunice pode descobrir que há outra mulher aí; é o incêndio que provoca Howard ao esconder Judy na sacada da sua habitação quando Eunice entra para ver o quê está acontecendo... Em fim, são muitos minutos de confusão que faz de What’s up Dock? uma verdadeira comédia maluca.

-Help!. Howard pede ajuda desesperadamente
A terceira cena acontece nas ruas da cidade de São Francisco. É uma sequência de perseguição e confusão que só Judy Maxell poderia provocar. Quando finalmente as malas são roubadas, Judy consegue recuperar todas as malas e arrasta Howard com ela. É um desfile pelas ruas da cidade onde provocam um grande tumulto. As cenas são um conjunto de maluquices bem feitas. É verdade que já se viu em muitos filmes perseguições, mas as que acontecem neste filme não são exageradas nem ridículas e nos lembra aos filmes de Harold Lloyd, na melhor época dele, no cinema mudo. Judy e Howard correm de um lugar para outro; depois roubam um carinho de repartição de comida e logo depois um fusca. E enquanto eles fogem, todas as outras pessoas, os que se conheciam e os que ainda nem sabiam bem o que estava acontecendo, vão atrás eles.

A quarta e última cena é quando todos acabam frente a um juiz que tem que resolver todo o problema causado, segundo a narrativa de Howard, por Judy.

What’s up Dock? é um filme de absurdos com uma perfeita lógica. É um “screwball”, quer dizer, é um filme para nos divertir longe de qualquer crítica social, política, sexual... É uma das poucas comédias malucas contemporâneas que estão no mesmo nível de qualidade das originais maluquices da era de ouro de Hollywood.

Texto original de Patricio M. Trujillo O.

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