Com Kelly MacDonald, David Tennant, Alice Eve.
Direção de Sheree Folkson
Mais uma comédia romântica?
The Decoy Bride (A noiva isca)
é uma comédia romântica e a primeira impressão que temos desse filme é que parece
ser mais uma das tantas comédias românticas que chegam ao mercado, embora seu
humor britânico seja distante do hollywoodiano; mas é uma impressão imprecisa.
A segunda impressão, então, é que
o filme não consegue fugir totalmente dos clichês e de certos estereótipos que
caracterizam as comédias românticas previsíveis quase na sua totalidade, ainda
que essa nos surpreenda com alguns elementos culturais com os quais não estamos
acostumados. E essa impressão, como a anterior, também é imprecisa.
The Decoy Bride |
A terceira impressão é que,
apesar da soma inevitável da primeira com a segunda impressão, The
Decoy Bride (A noiva isca) é um filme muito agradável de assistir
graças a sua história original, a suas personagens únicas com um humor
singular, às vezes sutil e outras, direto. Além disso, a paisagem exótica com
seus nativos, seus costumes e a possibilidade de descobrir novas perspectivas
de vida.
Os habitantes da Ilha Hegg nas Ilhas Hébridas |
Hegg, a ilha mais feia das
Ilhas Hébridas, ao norte da Escócia.
Katie Nic Aoidh, interpretada por
Kelly MacDonald, volta ao seu lar desiludida do amor. Ao se aproximar a sua
terra natal, ela joga ao mar uma aliança que simboliza a sua última esperança
frustrada de se casar.
Katie retorno a casa de sua mãe |
Depois de ter ficado algum tempo
longe de seu lar, ela volta para a ilha Hegg, uma das ilhas mais remotas das
Ilhas Hébridas, ao norte da Escócia. Segunda ela, a ilha mais feia da região
onde não moram mais que setenta e cinco pessoas e todos os menores de cinquenta
anos – com os quais ela poderia se casar – já estão casados. Katie volta
resignada com a sua situação e tenta se acostumar ao ritmo pacato da região no
hotel de sua mãe.
A maior tristeza no momento do
retorno de Katie é que volta justo a tempo de assistir ao casamento do último
solteiro da ilha com quem ela poderia ter se casado: seu ex-namorado. Tanto é que,
assim que chega ao casamento, uma das convidadas, uma mulher velha, lhe diz: “Você chegou demasiado tarde para se casar
com ele”. E praticamente a noiva fala no ouvido de Katie a mesma frase.
O Ex e Katie no casamento dele |
Ao mesmo tempo, longe da ilha
Hegg, no meio da fama e de ter a vida sempre exposta pela mídia, Lara Tyler,
uma atriz muito famosa, não consegue casar-se com James Niel porque os paparazzi estragam o desejo da atriz, que
é ter um casamento privado e íntimo. Os noivos tentam enganar aos paparazzi utilizando noivas falsas como
iscas para poder ter a sua celebração como eles querem, mas há um paparazzi, no meio de todos os outros, que
sabe como arruinar os planos dos noivos, e não se importa com os sentimentos
deles. “Você está arruinando a minha
vida”, diz Lara ao fotógrafo. “Já
arruinei a vida de outros e a sua vida não tem nada de especial”, responde
o paparazzi.
O paparazzi: "... a sua vida não tem nada de especial" |
A equipe de assessores dos noivos,
liderada por Steve, encontra uma solução para realizar o casamento no maior dos
sigilos: aluga um castelo abandonado na Ilha Hegg para realizar a cerimônia e,
para evitar que os habitantes da ilha atrapalhem os planos, assim como a mídia,
anunciam que o evento no castelo é uma conferência de vendedores.
O castelo |
Só que nem Lara, nem James e nem a
sua equipe de assessores poderiam se imaginar que a chegada deles à Ilha Hegg
provocaria tanta comoção, pois os habitantes, ao saberem que o castelo foi
alugado, aproveitam a oportunidade para poder ganhar um dinheiro extra com o evento,
como já tinha acontecido uma vez há muito tempo.
As personagens.-
Cinco são as personagens que
merecem um destaque especial: Katie,
Lara, James, Steve e a mãe de Katie.
Katie tem trinta e dois anos de idade e volta a sua terra natal
porque acredita que não há outra opção para ela na vida. Seu sonho de se casar
terminou e ela está disposta a viver junto com a sua mãe, embora no fundo ainda
deseja encontrar algo a mais na sua vida. Ela pensa que esse “algo a mais” é o
“amor” ou, em outras palavras, “o casamento”, sem perceber que a sua vida pode
ir também por outros caminhos que a deixem satisfeita.
Katie |
Para entender bem essa
preocupação com a necessidade de “se casar”, há que compreender que os habitantes
moram em uma ilha muito remota e, apesar de estar em contato com o mundo por
meio da tecnologia, seus costumes e suas aspirações são diferentes de outros
lugares. É como se esse fosse o único destino das suas vidas. Quem não foi
embora, é porque ou não teve a oportunidade de fazê-lo ou se conformou com o
jeito de ser dos habitantes da ilha, quem são felizes vivendo em seu próprio
mundo.
Ao chegar à ilha, Katie interage
com a população local e tenta aceitar com humor a sua situação de “solteira”, o
que é comentado pela vizinhança; mas, no fundo ela não está satisfeita com
estar solteira e compartilha as suas frustrações com a sua mãe, quem lhe diz: “Há alguém para você em algum lugar”.
Mas, Katie tem a resposta que demonstra o que ela sente de verdade: “Eu sou com a kriptonita para os homens. Uma
kriptonita com celulites”.
Katie e James |
A vida de Katie nunca foi
emocionante e nunca conseguiu realizar seus sonhos. Talvez ela tenha pouca
autoestima e tomou as decisões erradas. Mas ela vê essa situação com humor. Quando
conversa sobre seu antigo trabalho, antes de voltar para à ilha, alguém lhe
diz: “Pensei que você tinha dito que aqui
(na ilha) nunca acontecia nada”. Katie responde: “Que não aconteça nada é o mais emocionante da minha vida”.
Katie volta trabalhar na loja de
Laird, a pessoa mais importante da ilha, quem lhe propõe um trabalho especial:
que ela escreva uma guia turística sobre a ilha Hegg. E essa proposta é o
pontapé inicial para que ela possa encontrar outro sentido a sua vida.
The Decoy Bride |
Lara Tyler, segundo seu noivo, é uma mulher perfeita e segundo uma
pesquisa feita com 10.000 homens, 9.800 queriam casar-se com ela. Ela é uma
atriz americana muito famosa e seu desejo é que a imprensa não se meta em sua
vida. Quer uma vida de paz e tranquilidade e seu sonho é ter um casamento
íntimo e privado com seu noivo. Tudo o que sabemos dela, é pelo que contam as
outras pessoas que estão ao seu lado. No relacionamento que ela tem com James Niel, ela é quem comanda as
decisões, os gostos, e tudo feito de uma forma sutil.
Lara Tyler |
James Niel, o noivo, é um
escritor que escreveu só um livro: A
esposa do ornitólogo e ainda espera a “inspiração” para poder escrever seu
segundo livro, pois Lara pensa que ele será o grande escritor do século XXI. O
problema é que se descobre que James, como escritor, é uma fraude, pois seu
livro, que na teoria foi inspirado na ilha Hegg, não tem nada a ver com essa
ilha, o que significa que ele escreveu uma história de um lugar do qual não
sabe nada. Durante o filme, há vários momentos nos quais o humor gira em torno
deste assunto, como quando Katie, sem saber que está conversando com o James,
fala que eles (os habitantes da ilha) achavam que esse livro melhoraria depois
da página 600 e se oferece para ajudar a levar o livro, de tão pesado que ele
é. De todas formas, James é uma pessoa que ainda não descobriu a sua própria
identidade, pois atua sob as ideias de Lara.
James e Katie |
Steve, o assessor do casal, é talvez a personagem mais engraçada do
filme, pois suas palavras são sarcásticas, irónicas e põem em evidência o
excesso do “ego” de Lara y James. Em outras palavras, Steve é a “voz” que
mostra a atitude exagerada em torno dos “famosos”.
Steve |
A mãe de Katie tem uma função muito interessante no filme, pois ele é
o oposto da sua filha e dos demais habitantes da ilha. Ela está doente, sabe
que vai morrer em breve e sempre desejou sair da ilha, conhecer o mundo e ser jogada
em um vulcão. No entanto, as circunstâncias da vida não lhe permitiram realizar
esse sonho; mas, com o retorno de sua filha e a chegada de Lara e James, uma
nova perspectiva se apresenta frente a ela.
A noiva isca e o humor.-
Como já foi dito no começo do
texto, A noiva isca (The Decoy Bride) é uma comédia romântica que não
foge totalmente do humor estereotipado desse tipo de filmes; porém, uma boa
dose de seu humor parte das características da população local e outra, da
própria confusão criada com a chegada de Katie, Lara e James.
A noiva isca |
Quando Katie recebe a proposta
que lhe faz Laird de fazer uma guia turística da ilha Hegg, ela percorre a ilha
e descreve as caraterísticas geográficas e da sua população. Por exemplo,
ficamos sabendo que eles consideram a ilha tão insignificante, que nem sequer
os Vikings prestaram-lhe atenção quando invadiram a região. O valor da diária do hotel da mãe de Katie é
de 16 libras esterlinas; mas, quando ficam sabendo do evento dos vendedores, a
mãe só troca os números e o valor passa a ser de 61 libras e pede a sua filha
que se alguém perguntasse sobre o hotel, que dissesse que tem duas estrelas,
mas que estão perdidas.
Katie, o hotel e a Ilha Hegg |
Percebe-se também a rivalidade
dos habitantes das Ilhas Hébridas com os das Ilhas Órcades ou Órcadas (que
ficam ao sul das Hébridas) com uma só frase dita em todo filme. Quando chegam
os visitantes, uma mulher fala para Katie: “nada
de se jogar nos braços dos visitantes; não queremos que pensem que estão nas
Órcades”.
A chegada dos paparazzi à ilha provoca a confusão que
é o tema central do filme. Lara se esconde para não ser descoberta pelos
fotógrafos e, como ninguém sabe onde ela está, Steve tem que improvisar para
desorientar aos fotógrafos: ele contrata Katie, por 5.000 libras esterlinas,
como “noiva isca” para fingir que é Lara. “Não
me pareço em nada com Lara”, diz Katie. “Ela
(Lara) tampouco se parece com ela até que elas (as esteticistas) a arrumam”.
O casamento |
Como Lara é americana, Katie tem
que improvisar o sotaque americano. Um humor linguístico simples, mas efetivo.
Quando Lara e James chegam à
ilha, James fala: “Não tenho nem ideia de
onde etamos, mas isto é perfeito”. Só depois é que ele descobre que está na
Ilha Hegg, na qual “ele” se inspirou para escrever seu livro, o que provoca a
ironia constante de Steve.
Cenas claves.-
Poderíamos citar como uma cena
clave o momento em que Katie quase se afoga, pois quando isso acontece ela acha
que esse foi o momento mais emocionante de sua vida. Portanto, é uma forma de
conhecer até que ponto a vida dela é entediante; mas a cena que muda o destino
da história é a mais romântica que há no filme e nela não participam nem Katie,
nem Lara.
James está perdido na ilha e ele
está usando uma roupa que era do pai de Katie. A roupa é esquisita e o pai da
Katie usava-a quando tocava a gaita escocesa. James vê uma casa e se aproxima
para pedir ajuda. Logo descobre que o casal de velhos que ali moram é surdo e
quando eles o vêm com a roupa do gaiteiro, se emocionam, pedem para ele
autografar o disco do pai de Katie e para tocar a gaita. Imediatamente, o casal
começa a dançar como se estivessem ouvindo a música, e James percebe a paixão
que une aos dois velhos e mexe definitivamente na forma em que ele se encara a
se mesmo e aos outros. É uma cena delicada e belíssima, construída de um jeito
simples, mas eficaz.
Palavras finais.-
A Noiva Isca é uma
aventura que às vezes se transforma em uma desventura, mas tudo acabada dando
certo. É um filme dinâmico e como pano de fundo tem uma paisagem espetacular,
que se destaca como se fosse mais uma personagem, com identidade própria,
graças ao bom trabalho fotográfico e ao uso dos mais variados planos
fotográficos que ajudam a destacar à Ilha Hegg.
E para terminar, podemos resumir
o filme nas palavras desafiadoras da mãe da Katie para sua filha: “Uma vida gasta em erros é muito melhor que
uma sem ter feito nada”.
The Decoy Bride (A noiva isca)
é um filme que vale a pena de ver, ainda para aqueles que não gostam de
comédias românticas.
The Decoy Bride |
Texto original de Patricio M. Trujillo O.
Está proibida a reprodução total o parcial do texto sem a autorização
escrita do autor.
Muito bom o texto! Parabéns
ResponderExcluirAdorei!
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